Os municípios capixabas de Linhares, Colatina e Baixo Guandu devem suspender a captação e abastecimento de água a partir deste domingo (8), assim que chegar ao Estado a onda de lama das duas barragens da Samarco Mineração rompidas em Mariana, Minas Gerais. A medida foi recomendada pelo governo estadual, para evitar o consumo água contaminada. Durante as nove horas de passagem do material, a Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) garantiu que disponibilizará carros-pipas para a população.
Outra ação emergencial é a retirada dos moradores de localidades ribeirinhas ao Rio Doce e dos pescadores que costumam acampar ao longo do rio, que podem sofrer riscos com o aumento de até dois metros da vazão do Rio Doce. A Defesa Civil Estadual destaca, no entanto, que não há previsão de desastres nos municípios do norte do Estado que receberam o alerta do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
O boletim extraordinário do sistema prevê que a onda de cheia que se desloca ao longo da calha do rio chegue a Colatina e Baixo Guando na próxima segunda-feira (9) e em Linhares entre segunda e terça-feira (10).
O prefeito de Colatina, Leonardo Deptulski (PT), acredita que o abastecimento de água seja interrompido na segunda-feira (9). As aulas da rede municipal de ensino serão suspensas na terça-feira (10) e só serão retomadas após o abastecimento ser normalizado.
Em Baixo Guandu, o prefeito Neto Barros (PCdoB) informou que o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) irá interromper as bombas por um período, assim que a lama chegar ao município, para colher amostras de análise da água. Caso seja possível tratar, sem nenhum risco, o abastecimento voltará ao normal. Do contrário, será suspenso. O procedimento, garante ele, é o mesmo do adotado em outras cidades por onde a lama já passou. Nesses locais, segundo a prefeitura, não foi necessário interromper o abastecimento.
Já em Linhares, a prefeitura disse em nota que não há risco de contaminação da água que é distribuída pelo Saae, porque o ponto de captação é feito no Rio Pequeno. Além disso, a gestão de Nozinho Correa (PP) iniciou neste sábado uma obra para aumentar a barragem construída recentemente no manancial, que servirá como uma barreira para evitar o contato com a água do Rio Doce, garantindo o abastecimento de água.
A chegada da enchente de lama ao Estado foi tema de reunião extraordinária neste sábado (7), na residência oficial, na Praia da Costa, Vila Velha. Uma delegação foi enviada a Colatina, para monitoramento da situação. É composta pelo chefe de Gabinete, Neivaldo Bragato; pelo secretário de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano, João Coser; pelo diretor da Agência Estadual de Recursos Hídricos, Robson Monteiro; pelo coordenador da Defesa Civil Estadual, coronel Fabiano Bonno; pelo diretor de Operações do Interior da Cesan, Carlos Fernando Martinelli; e pelo gestor executivo da EDP Escelsa, Hudson Indrigo.
Rastro de destruição
As duas barragens da mineradora Samarco, que é uma joint venture da Vale S.A (50%) e da BHP Billiton Brasil Ltda (50%), romperam nessa quinta-feira (5), no distrito de Bento Rodrigues, entre as cidades de Mariana e Ouro Preto. A cidade está soterrada por lama tóxica e o acesso ao local apenas é possível por helicóptero. Há inúmeros desabrigados e soterrados e até o momento foram contabilizados ao menos 16 mortos e 45 desaparecidos. A situação no local continua grave e com riscos de novos desmoronamentos.
Em nota, a Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale S.A. aponta que o rompimento de uma barragem de rejeitos – estrutura que tem a finalidade de reter os resíduos sólidos, que possuem elevado grau de toxicidade e água dos processos de beneficiamento de minério – não se dá de forma aleatória e não é uma novidade nem para o estado de Minas Gerais nem para o setor minerário. “O que ocorreu foi crime. Os órgãos fiscalizadores e as empresas têm total responsabilidade sobre a tragédia ocorrida”, enfatizou.
Segundo a entidade, a quantidade de rejeitos prova que as empresas tinham ultrapassado, e muito, a capacidade da barragem. Informa, ainda, que o laudo técnico realizado pelo Instituto Prístino, a pedido do Ministério Público durante o licenciamento do projeto, já identificava problemas.
“A Vale S.A. é uma empresa amplamente conhecia por movimentos sociais, comunidades, sindicatos, acadêmicos, organizações não governamentais e demais segmentos sociais, por seu constante desprezo aos direitos socioambientais. O que mais esta tragédia nos evidencia é o desrespeito a questões fundamentais, como a segurança, tanto dos seus trabalhadores, quanto das comunidades próximas, frente a crescente intensidade da extração mineral e a busca desenfreada pelo lucro das grandes mineradoras”.
A Articulação alerta para as mobilizações atuais que visam a aprovar de um Novo Código Mineral para o país, que permitirá o avanço ainda maior da mineração em território nacional. “Deve-se considerar as chances reais do crescimento em escala e números do cenário de mortes, desrespeito de direitos, apropriação ilegal de terras, contaminação de mananciais de água e tragédias como a ocorrida ontem [quinta-feira].
As entidades que compõem o grupo exigem “investigação e punição cível, ambiental e criminal das empresas Samarco, Vale S.A. e BHP Billiton Brasil Ltda, responsabilizando-se, também, seus dirigentes de forma pessoal, além de reparação integral e indenização à população de Bento Rodrigues”.