Os municípios capixabas estão “convocados” a indicarem servidores para receber uma formação em Agroecologia a ser fornecida pelo governo do Estado ainda neste ano de 2021. A iniciativa é da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag), por meio da Coordenação de Agroecologia e Produção Orgânica (Coagro), em parceria com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o Fórum Estadual de Combate aos Impactos de Agrotóxicos e Transgênicos do Ministério Público Estadual (Fesciat/MPES) e a Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes).
“Inicialmente, será uma capacitação mais curta, modular, mas que pode crescer à medida que houver interesse dos municípios e também dos movimentos sociais, cooperativas e organizações agrícolas”, expõe o economista Luciano Fasolo, coordenador Coagro/Seag.
A Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) disponível hoje, ressalta, “é insuficiente para toda a agricultura familiar, por isso a necessidade de formar mais profissionais que possam dar o suporte necessário aos agricultores engajados na expansão da agricultura livre de agrotóxicos e outros venenos, sejam agrícolas, ambientais, sociais ou econômicos, que caracterizam a agricultura convencional e o agronegócio.
Luciano explica que os dados oficiais indicam que a produção orgânica e agroecológica capixaba está concentrada em algumas regiões, como a central serrana, especialmente o município de Santa Maria de Jetibá, e a região norte e noroeste. “Mas praticamente todos os municípios têm iniciativas de agricultores em transição agroecológica ou já produzindo dessa forma, porém, nem todos contam com Ater especializada”.
Por isso, sublinha, os agricultores agroecológicos podem aproveitar essa oportunidade e cobrarem de seus municípios, a indicação de servidores para fazerem a capacitação. “Queremos chegar a todos os 78 municípios, só precisamos que eles façam as indicações. E os agricultores podem ajudar fazendo essa solicitação”, orienta o coordenador da Coagro.
No universo do Incaper, órgão com maior capilaridade em Ater no Estado, conta Luciano, o último concurso público realizado, em 2005, ocorreu após 19 anos de hiato. Naquele momento, o quadro de extensionistas já estava reduzido e 90 novos servidores entraram para a instituição, chegando a 120 até 2008. “Deu um ‘sobrefôlego”, lembra. Ano após ano, no entanto, mesmo após mais um concurso, em 2012, aposentadorias e outros eventos foram reduzindo o quantitativo. “Hoje temos menos pessoas do que em 2005”, constata. Ainda assim, o órgão segue sendo um porto seguro para quem precisa. “Se algum município tiver necessidade, precisar apoiar uma iniciativa agroecológica, o Incaper se organiza para enviar um profissional para atender à demanda”, afirma.
A capacitação anunciada pela Seag e o Fesciat/MPES surge como uma centelha para apoiar a onda transformadora que tem sido sustentada pelos movimentos sociais do campo, com apoio possível do Estado, conta Luciano Fasolo. “Precisamos fazer acontecer. A gente quer que a agroecologia cresça, se torne uma realidade”, exulta, citando o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, notabilizado pelo livro Uma Verdade Inconveniente, transformado também em documentário: “a nossa é a última geração que tem a chance de fazer algo para mudar a relação com o meio ambiente; as próximas não terão opção, serão obrigadas”. E nesse sentido, a agricultura, como atividade humana que mais gera impacto ambiental, é estratégica para essa mudança vital.
O economista lembra que, no Espírito Santo, segundo dados de 2014, 16% da área agricultável é coberta por solos degradados pelos monocultivos de pastagens, eucaliptos e café e também pela produção convencional de olerícolas, sendo a maior parte delas pastagens degradadas, que somam cerca de 220 mil hectares. “É urgente fazer algo. Em alguns municípios a água já virou problema de polícia, principalmente no norte e noroeste, onde, se todos ligarem suas bombas ao mesmo tempo, a água acaba”, exemplifica.
“Esse modelo de produção precisa ser revisto. Quando a gente fala do alimento seguro, existe claro o risco para o cidadão que consome o produto contaminado, mas a principal vítima desse processo são os agricultores. São eles que mais morrem ou adoecem por intoxicação com agrotóxicos. A agroecologia é fundamental para garantir a vida e a saúde do agricultor familiar”, conclama.