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Nem a falta de água faz o Governo intensificar reflorestamento e ser mais rigoroso com o setor industrial

Um programa de reflorestamento tímido e burocrático, que não dialoga com os movimentos sociais do campo, e que tem orçamento (R$ 25 milhões) equivalente a apenas um quarto da verba destinada à construção de barragens (mais de R$ 90 milhões). Uma medida drástica, de racionamento de água à população, ao invés da exigência, junto ao setor industrial, para adotar medidas mais severas de redução de consumo.

A forma como o governo estadual tem conduzido a crise hídrica no Espírito Santo é de uma gravidade tamanha que acaba por transferir também responsabilidade ao Ministério Público Estadual. A sociedade civil organizada tem denunciado, sugerido e cobrado, mas muito pouco é feito.

Obviamente que o descaso do poder público com a proteção dos recursos florestais não é exclusividade desta gestão estadual, nem das anteriores. Faz parte da cultura da gestão pública no Brasil, seja municipal, estadual ou federal. Mas é quando a crise chega num estágio perigoso como o atual, em que os rios Santa Maria e Jucu estão próximos da exaustão, cabe ao gestor da ocasião a responsabilidade de fugir à regra e encontrar soluções realmente inovadoras e eficazes.

É preciso reflorestar. Mas reflorestar intensamente. Os seis mil hectares, divulgados em notícias do Governo estadual, correspondem a uma área menor do que a que foi, até agora, liberada pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) para plantios de eucaliptos pelas empresas Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano. O aumento do deserto verde, portanto, é prioritário em detrimento da recomposição florestal, apesar de toda a propaganda vazia feita pelo governo, seja em matérias ou pronunciamentos do governador Paulo Hartung (PMDB) e quadros de sua gestão.

Com relação às indústrias da Grande Vitória, especialmente às da Ponta de Tubarão – Vale e ArcelorMittal – a falta de firmeza do Poder Público, inversamente proporcional à cobrança feita pelas organizações não governamentais, tem protelado perigosamente a adoção de medidas mais severas de redução do consumo da água do Rio Santa Maria.

Relativamente acomodadas com a frouxa exigência e escasso conhecimento técnico dos órgãos governamentais licenciadores e fiscalizadores, as empresas ainda não colocaram em práticas medidas já tecnicamente viáveis, como a dessalinização e a reutilização do efluente tratado oriundo das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). O horizonte de autossuficiência no provimento de água já é vislumbrado em Tubarão, cabendo à sociedade exigir que o governo e o Ministério Público agilizem o processo.

À sociedade cabe também, naturalmente, poupar água em suas atividades cotidianas. Até porque, segundo dados mais atuais da Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), 75% da água tratada na Grande Vitória é destinada ao consumo residencial. Além do resultado prático de reduzir pressão sobre os mananciais, o uso racional tem efeito educativo, de valorização maior dos recursos hídricos.

Racionamento, porém, assim como construção de barragens, são medidas paliativas e emergenciais, para tapar um buraco deixado pela negligência histórica do Poder Público com a conservação florestal. Recuperar a cobertura vegetal é medida urgente e precisa ser realizada em parceria com os movimentos sociais do campo.

Que as indústrias sejam conduzidas para a sua autossuficiência hídrica, que o deserto verde comece a retroceder e que os camponeses e assentados tenham o apoio que necessitam para regularizar ambientalmente o interior do estado, plantando água e saúde. 

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