A onda de lama das duas barragens da Samarco Mineração/Vale rompidas em Mariana, Minas Gerais, tem nova previsão para chegar a Baixo Guandu (noroeste do Estado), o primeiro município capixaba que será atingido pela enxurrada de rejeitos. Segundo o último boletim do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), isso deverá acontecer entre esta sexta-feira (13) e sábado (14).
Já em Colatina, a previsão é que chegue entre sábado e domingo (15) e em Linhares entre as próximas segunda e terça-feiras (16 e 17).
O mesmo boletim, divulgado na noite dessa terça-feira (10), confirmou o que já havia sido divulgado pela reportagem de Século Diário que percorreu no mesmo dia os municípios que margeiam o rio Doce entre Baixo Guandu e Governador Valadares (MG). A onda de lama avança, atualmente, para a cidade mineira de Tumiritinga, seguindo depois para Galiléia, Conselheiro Pena, Itueta e Aimorés, já na divisa com Baixo Guandu, no Espírito Santo.
Nesta quarta-feira (11), notícia publicada no Estado de Minas gerou ainda mais apreensão à população, além de aumentar a preocupação em relação aos estragos ao meio ambiente que serão gerados pela lama de resíduos. A maior barragem da Samarco em Mariana, chamada Germano, está com a parede de sustentação trincada, também com riscos de rompimento. Como medida emergencial, o acesso ao distrito de Bento Rodrigues, que está devastado, foi completamente bloqueado, e são feitas obras para a sustentação da barragem.
Embora a onda de lama ainda não tenha chegado aos municípios de Baixo Guandu, Colatina e Linhares, os trechos do rio Doce que cortam esses municípios já apresentam vazão elevada e água com maior densidade e turbidez. Cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram liberados no meio ambiente com o rompimento das duas barragens da Samarco.
Nos locais onde a onda de lama está concentrada, como Governador Valadares, há forte odor de ferrugem e esgoto. Em certos trechos, é possível verificar a presença de substância semelhante a óleo. O cenário no município mineiro é desolador. Animais marinhos agonizam em busca da superfície do rio atrás de oxigênio e muitos já estão mortos às margens do manancial. Além dos rejeitos que atravessam as cidades, há o material depositado no fundo do rio, com impactos ambientais irreversíveis e ainda mais graves.
Na cidade mineira, a informação é de que a onda da lama estava retida em uma barragem localizada acima de Governador Valadares, o que atrasou sua descida. Assim como tem ocorrido nos outros lugares, primeiro foi registrada a presença de uma lama mais rasa e, depois, a forte enchente de resíduos, que teve detectada a presença de ferro e manganês, impossibilitando o abastecimento de água à população. Mesmo cenário está previsto para ocorrer no Espírito Santo nos próximos dias.
Sem respostas
O prefeito de Baixo Guandu, Neto Barros (PCdoB), cobra medidas para assessorar os municípios que serão atingidos pela onda de lama no Estado.
Ele ressalta que, até agora, só foram anunciadas ações para amenizar os impactos, mas não há estudos que tentem evitar a chegada dos dejetos nas cidades e no mar, o que implicará em catástrofe ambiental.
Neto aguarda resposta da Samarco Mineração em relação ao projeto alternativo de captação de água para abastecer o município em caso de contaminação da água, que seria por meio do rio Guandu, utilizando a antiga barragem da hidrelétrica Lutzon.
O prefeito defende a prisão preventiva dos responsáveis pela licença e obra das barragens rompidas, além dos diretores da Samarco, bem como o bloqueio dos bens da empresa, para garantir o ressarcimento dos danos gerados.
A passagem da primeira água turva no município foi detectada na noite dessa segunda-feira (10). A captação foi interrompida durante a madrugada para análise, mas após constatação de que a água ainda estava própria para consumo, o abastecimento foi restabelecido. Assim que onda de lama chegar, porém, a captação será suspensa.
Para garantir minimamente o abastecimento, a prefeitura diz que irá captar água do rio Manhuaçu-MG e na barragem da Usina de Aimorés, que será levada por meio de autotanques até a estação de tratamento do Serviço de Abastecimento de Água e Esgoto (Saae) do município.