Pescadores divulgam mais um caso de peixe com tumor em águas contaminadas pelo rejeito de mineração
Mais um caso de peixe com tumor foi divulgado nesta quinta-feira (11) por pescadores capixabas que atuam em águas contaminadas pelo crime da Samarco/Vale-BHP. Desta vez, nas imediações da Lagoa do Limão, em Linhares, norte do Estado.
O registro é de Marcos José Lidôneo, pescador há 26 anos, 23 deles registrado como profissional. “Sempre pesquei e nunca me deparei com um peixe dessa maneira, com um tumor desse esquisito. Quase oito anos depois da tragédia, é isso aí que a gente tem. Olha um peixe desse”.
O pescador conta que o pouco que se pesca hoje nas áreas atingidas é uma necessidade das famílias, que não são devidamente reparadas nem compensadas. “O cartão que a Samarco paga, de um salário, não dá para sobreviver. Terça-feira o ministério público falou que a pesca está liberada no Rio Doce, vim eu pescar aqui. Peguei uma corimba, deve ter oito a dez quilos. Olhando esse peixe parece bom, mas eu como pescador há mais de 26 anos, estou vendo no rabo dele esse inchaço aqui, que parece um tumor, muito esquisito. É duro e ao mesmo tempo flexível, parece que tem um monte de pus aqui”, diz, enquanto mostra o peixe inteiro dentro do barco e apalpa uma parte do rabo com um grande calombo. “Vou para casa agora e vou abrir o peixe lá e vou filmar para vocês”.
Em outro vídeo, Marcos José Lidôneo abre a corimba e mostra o que realmente parece um tumor, de aparência muito desagradável. “Temos que mostrar a realidade do nosso Rio Doce hoje. É lamentável precisar estar num cenário desses”, aponta. “A gente faz um apelo para o ministério público, que falou que não tem rejeito no rio mais, que os peixes não têm contaminação por rejeito”, roga, referindo-se a uma reunião realizada no início desta semana em Minas Gerais entre atingidos de várias comunidades mineiras, o juiz federal Michael Procópio e um representante do Ministério Público de Minas Gerais.
Em uma filmagem caseira compartilhada entre pescadores mineiros e capixabas, o procurador ou promotor – a reportagem não conseguiu ainda a devida identificação – afirma que 29% da contaminação do Rio Doce hoje é referente ao crime da Samarco/Vale-BHP e que o restante, 71%, é agrotóxico e esgoto não tratado.
Presidente do Sindicato dos Pescadores e Marisqueiros do Espírito Santo (Sindpesmes), João Carlos Gomes da Fonseca, o “Lambisgoia”, reforça a fala do colega de Linhares. “Antes do rejeito não tinha isso, não. Tanto é que a gente tinha uma cultura do turismo em torno da pesca, nessas comunidades”.
A necessidade de pescar, reforça, é para subsistência. “As poucas pessoas que estão pescando é para comer, para sobreviver, não é para vender, porque ninguém quer comprar esses peixes. Quando um ou dois sai para pescar, acontece isso. Se todo mundo saísse para pescar, iria ver o tanto de peixe esquisito que aparece”, afirma.
“O Espírito Santo virou o saco de rejeitos do crime da Samarco”, lamenta. “Para nós, não é novidade, estamos pegando toda hora, só que ninguém filmava nem divulgava, mas com essas falas do ministério público dizendo que a água tá boa, que pode pescar, a gente vai colocar ‘pra esquentar’, vai filmar tudo. O atingido de hoje não é aquele de oito anos atrás”.
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