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‘O peixe sumiu’, rogam pescadores, após caminhão de agrotóxicos afundar

Sem trabalhar há 19 dias, pescadores do sul do Estado pedem socorro. Ambipar não entregou laudo contratado pela transportadora

“O peixe do rio Itabapoana desapareceu. Não tem nada, você não vê um peixe”. A afirmação acompanha as imagens de um vídeo gravado na comunidade ribeirinha de Limeira, em Mimoso do Sul, no sul do Estado, e divulgado como um pedido de socorro dos pescadores. “O peixe sumiu, a pescaria parou desde primeiro de maio. As autoridades deviam tomar uma providência, ver a situação dos pescadores”, prossegue a narração, conduzida pelo vice-presidente da Associação de Pescadores da Limeira (Aspel), Renan Máximo de Sena.

Reprodução

O local do registro é um ponto tradicionalmente muito piscoso do rio, abaixo de uma escadaria logo após a represa da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Pedra do Garrafão, localizada no município vizinho de Apiacá, onde um caminhão carregado com agrotóxicos da empresa CargoModal tombou no último dia 1º. Um vídeo feito quinze dias antes do acidente mostra os pescadores comemorando a abundância do pescado, visto facilmente nas imagens caseiras. “Dá para encher um caminhão, se quiser!”, celebram, na gravação.

Divulgação/Ibama

Limeira é a primeira comunidade pesqueira localizada a jusante da represa. Renan conta que são 56 pessoas atingidas na sua comunidade, todos dependentes da pesca no rio Itabapoana para sobreviver. “Estamos parados sem ganho nenhum. Tem gente passando privação de alimento. Tem criança pequena, idoso precisando de remédio. As contas estão vencendo, cartão de credito, farmácia, mercado. Só Deus para ter misericórdia”, suplica.

Há alguns dias, ele conta que a Prefeitura de Mimoso do Sul, sob gestão do prefeito Peter Costa (Republicanos), entregou algumas cestas básicas para as famílias, atendendo a pedido do vereador Marquinhos Jaú (PSB), parlamentar mais próximo dos pescadores, ação que está longe, porém, de atenuar a situação. “A gente fica até sem jeito de falar, mas a cesta veio cheia de gorgulho, aquele inseto que dá nos alimentos. Tem muitas cestas paradas aqui, a gente não está conseguindo aproveitar, não”.
Afora essa doação, nenhuma outra autoridade se prontificou a atender os pescadores. “A gente soube pela internet da circular do Ibama [Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais] proibindo a pesca e a comercialização do pescado. Mas não veio ninguém aqui. Isso causa estranheza, porque o Ibama esteve no local do tombo e não veio aqui na comunidade para falar nada, nem por prevenção. Só emitiu a circular que soubemos pela internet. A empresa responsável também não veio, a gente nem sabe o nome dela”, relata.
Em nota enviada a Século Diário no último dia 12, o Ibama informou que a transportadora é a CargoModal e a empresa contratada por ela para fazer as análises da água e do pescado é a Ambipar. “A Ambipar (empresa contratada pela transportadora para dar resposta ao acidente) fez coletas de água no rio Itabapoana em 2/5/2023 e as enviou para análise laboratorial. No mesmo dia, o Ibama notificou a empresa transportadora CargoModal para apresentar os resultados das análises das amostras. O prazo da notificação terminou em 10/5/2023. De acordo com a empresa, o laboratório ainda não forneceu os resultados das análises. O Ibama notificou a empresa para realizar novas amostragens no rio Itabapoana e apresentar os resultados das novas análises, com vencimento em 24/5/2023”, informa a nota. 
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A negativa da entrega dos resultados é motivo de insegurança para os pescadores, conta Renan. “Traz muita desconfiança para a gente. A empresa que tem que fazer o laudo foi contratada pela transportadora. Deveria ser o Incaper [Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural], o Ibama..ela não entrega o laudo, ganha mais um prazo, e a gente continua aqui sem trabalhar, sem renda, passando necessidade”.

O vice-presidente da Aspel estima que, descendo o rio até a foz, na Praia das Neves, em Presidente Kennedy, divisa com o estado do Rio de Janeiro, existam cerca de 1,2 mil pescadores atingidos pelo acidente. Todos, até onde se sabe, sofrendo com a mesma desinformação e desassistência.

Presidente da Colônia Z-8, em Barra de Itapemirim, município de Itapemirim, Marcole Luiz Marvila conta que sequer o nome da transportadora havia chegado ao conhecimento dos pescadores e que, de posse da informação, os advogados da Colônia irão preparar uma ação judicial com pedido de indenização.

Atitude que também está sendo providenciada pela Federação Federação de Colônias e Associações de Pescadores do ES (Fecopes). “Estamos conversando com o Ibama, aguardando uma devolutiva dele. Também pretendemos entrar com uma ação de indenização”, informa o presidente da Fecopes, Carlos Belonia.

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