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‘O que essas empresas dizem é: a vida dos capixabas não vale nada’

11º Ato contra o pó preto denuncia convivência dos governos e MPs com poluição crescente da Vale e Arcelor

Divulgação

O 11º Ato Contra o Pó Preto realizado, realizado na manhã desta quarta-feira (15) pela Juntos SOS ES Ambiental, trouxe de volta à Praia de Camburi a indignação contra a conivência dos governos, dos parlamentares e dos ministérios públicos com a poluição do ar crescente emitida pela Vale e ArcelorMittal.

Munidos de cartazes, fantasia de caveira, dados e relatos sobre o crônico problema do pó preto que assola a região metropolitana da Grande Vitória, os manifestantes chamaram atenção dos passantes pela orla da capital neste feriado para a necessidade de mobilização popular na cobrança por melhor controle ambiental e aprovação dos projetos de lei que propõem estabelecer padrões mais rígidos de emissão de poluentes.

Ao microfone, os manifestantes exaltaram fatos que caracterizam a capital capixaba, como o aumento do pó preto em todas as estações que formam a Rede Automática de Monitoramento da Qualidade do Ar (RAMQAr) na Grande Vitória entre agosto de 2022 e agosto de 2023, ,chegando a 500% em alguns estações.

Outra característica é a existência de mais enxofre no ar de Vitória do que no de São Paulo e a capacidade do pó preto se dissociar em nanopartículas que são absorvíveis pelas células humanas, como demonstrou um estudo realizado por um conjunto de instituições de pesquisa do Brasil, Argentina, Austrália e Reino Unido, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A presença inconteste do minério de ferro – trazido pela Vale por ferrovia até a Ponta de Tubarão, onde parte é exportada por navios e outra parte é utilizada pela ArcelorMittal na produção de aço – também foi destacada, durante fala do vereador André Moreira (Psol). “O Moreschi [Eraylton Moreschi, presidente da Juntos SOS ES Ambiental] sempre faz essa apresentação na sua mesa de teste e ele de uma forma muito inteligente mostrou que à noite fica evidente que aquilo é minério, porque brilha. E onde ele mora [a Ilha do Boi], qual é o outro foco de dispersão de poeira sedimentável se não as empresas da Ponta de Tubarão?”, declarou o parlamentar.

Reprodução

Experiência semelhante foi feita anos atrás, em uma audiência pública sobre poluição do ar na Câmara de Vereadores de Vitória, pelo pintor e ambientalista Kleber Galvêas. Na ocasião, um representante da Vale disse que não havia minério de ferro no pó utilizado por Galvêas em suas telas-denúncia contra o pó preto. Foi quando ele passou um imã por trás da tela, fazendo as partículas que formavam o desenho se moverem na direção do ímã, que atraía o ferro nelas contido.

André Moreira foi o único político presente no Ato, apesar do convite feito a todos os vereadores de Vitória e deputados estaduais. Ele é autor do projeto de lei nº 51/2023, proposto à Câmara em março passado. Dois meses depois, o PL recebeu uma manifestação contrária por parte da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), em que a presidente, Cris Samorini, pede que o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Comdema) retire do projeto os artigos que tratam do controle da emissão de poluentes nas fontes.

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“A vida dos capixabas não vale nada”

O pedido reflete o medo da Vale e da ArcelorMittal de terem comprovada a sua grande fatia de responsabilidade na poluição do ar, especialmente o pó preto, que castiga a saúde e a qualidade de vida da população. “O que essas empresas fazem conosco é dizer o seguinte: ‘vocês não valem nada. Eu posso colocar aqui uma empresa que eu não colocaria em nenhum outro lugar do mudo'”, disparou.

“Em outros países já foi colocado dômus, a empresa se preocupa com o pó que seria lançado no ambiente. Aqui ela não se preocupa, ela diz o seguinte: ‘a vida dos capixabas não vale nada. Eu posso continuar jogando pó de minério e carvão na casa na cara nos pulmões das pessoas’. E eles ainda apostam que nós não vamos fazer nada”, complementou, referindo-se a uma medida de controle ambiental bem conhecida em países do hemisfério norte e que é reivindicada desde 2021 no âmbito das ações civis públicas movidas pela Associação Nacional dos Amigos do Meio Ambiente (Anama) contra a Vale e a ArcelorMittal, mas que ainda não obteve determinação judicial para implementação.

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