A última restinga do município de Vitória, que abriga importante biodiversidade, incluindo muitas espécies ameaçadas de extinção, está sendo destruída pelas obras de construção do novo aeroporto.
Supressões irregulares de vegetação têm ocorrido com frequência, principalmente aos fins de semana e, mesmo as que possuem parecer favorável do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), não cumprem as determinações do órgão, que condiciona a liberação dos desmates ao cumprimento das condicionantes ambientais estabelecidas no licenciamento ambiental.
Entre as irregularidades existentes, estão a ausência de manejo das espécies ameaçadas de extinção; o resgate insuficiente, quase inexistente, de flora e fauna nativa para posterior repovoamento, em outras áreas protegidas; a ausência de responsável técnico qualificado pelo resgate de flora durante a supressão vegetal durante mais de um mês; e funcionamento precário do viveiro de mudas nativas.
Essas e outras falhas no cumprimento das condicionantes foram denunciadas ao Idaf, ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – mas não geraram quaisquer ações de controle por nenhuma das três instituições.
A perda de biodiversidade é lastimável. “A restinga de Camburi possui grande importância ecológica devido à riqueza de espécies e por ser o único remanescente deste ecossistema com esta diversidade de ambientes no município de Vitória, conservando espécies ameaçadas de extinção e outras com distribuição restrita ao Estado do Espírito Santo”, lamenta o botânico especialista em restinga Oberdan José Pereira.
O especialista é um dos autores de um estudo sobre a flora local publicado em 2000 e que identifica 211 espécies vegetais para esta restinga, número bastante expressivo, segundo o botânico. Dentre elas, duas orquídeas ameaçadas de extinção (Pseudolaelia vellozzicola e Eltroplectris calcarata), um cacto (Melocactus violaceus), o café-da-restinga (Melanopisidium nigrum) e a pimenteira-da-restinga (Jacquinia armillaris). A fauna também conta com espécies ameaçadas, como o lagartinho-de-linhares (Ameivula nativa) e a cobra-cega da restinga (Amphisbaena nigricauda).
A importância da riqueza biológica local foi apresentada ao Conselho Regional de Meio Ambiente – Região da Grande Vitória (Conrema V) pelo Idaf e motivou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam) – que foi afastada do acompanhamento das obras pelo Iema – a enviar, no início de julho, ofícios aos Ministérios Públicos Estadual e Federal, requerendo adoção de providências legais para proteção da biodiversidade, e à Superintendência do Aeroporto de Vitória, solicitando a paralisação de qualquer atividade de supressão vegetal para as obras, sem o devido conhecimento prévio da municipalidade.