Alarmes em tempo real, prevenindo incêndios e acidentes devido a trombas d'água, são alguns dos benefícios diretos que o Parque Nacional do Caparaó perdeu devido ao cancelamento de um projeto de pesquisa que vinha sendo realizado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) desde 2012.
Os dados da pesquisa, mesmo preliminares, também já indicavam claramente que o Caparaó é um dos melhores lugares do país para o funcionamento de um observatório astronômico. Os pesquisadores inclusive já trabalhavam para viabilizar um observatório remoto de pesquisa e divulgação científica. “Seria mais um atrativo para o parque, com grande possibilidade de divulgação internacional”, lamenta o coordenador do projeto, físico Marcio Malacarne.
As razões do cancelamento da pesquisa estão elencadas em um documento registrado no Sistema de Autorizações e Informações em Biodiversidade (SISBIO), ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e ao Ministério do Meio Ambiente. Todas foram contestadas pela equipe da Ufes no mesmo SISBIO.
Um dos cinco motivos listados é um “evento de conflito de extrema gravidade”, que tornaria inviável a atuação do coordenador da equipe dentro do parque. Malacarne esclarece que o citado evento refere-se a uma discussão acalorada entre ele e o chefe da unidade, Anderson Nascimento, decorrente da falta de respeito do gestor, que tentou impedir e depois criou muitas dificuldades para a realização, pelos mais de 40 alunos presentes, de atividades programadas para uma visita agendada com dois meses de antecedência.
Diante do desrespeito, o coordenador registrou uma Notícia de Fato sobre o ocorrido no Ministério Público de Minas Gerais, onde acusa o chefe da unidade de cometer improbidade administrativa e abuso de autoridade. A discussão e o processo no MP aconteceram em agosto de 2014.
Depois disso, os pesquisadores da Ufes apontam que passaram a receber um tratamento mais hostil por parte do parque, que culminou, um ano e meio depois, com a negativa de renovação da pesquisa. Diante do pedido de reconsideração da decisão, em que as razões do cancelamento são contestadas, a resposta do SISBIO, em fevereiro último, chega a condicionar a análise de um novo pedido de pesquisa à “finalização” do processo no Ministério Público. “O que me parece é que eles querem a retirada da denúncia de abuso de autoridade, mas isso nós não vamos fazer”, afirma Malacarne. “Ela aconteceu e queremos que seja julgada”, reclama o coordenador.
Enquanto o impasse não é resolvido, o Parque Nacional do Caparaó e a população ribeirinha continuam sem os benefícios da pesquisa climatológica, com o agravante da aproximação da estação seca e seu elevado risco de incêndios.
Um abaixo-assinado está na internet, tendo recebido apoio de vários pesquisadores de várias partes do país.