Cães são proibidos desde a criação do parque, em 1997. Voluntários pedem que prefeitura reveja decisão
O grupo de Voluntários Gatinhos da Pedra da Cebola pede que a Prefeitura de Vitória reveja a intenção de permitir a entrada de cachorros no parque. O motivo é a proteção não apenas dos felinos que são cuidados diariamente pelos voluntários, mas por toda a fauna que mora no parque, incluindo gambás, lagartos e muitas aves, como gansos, patos, galinhas e pavão.
O grupo tomou conhecimento da decisão do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) no início do mês, quando a previsão era de que a normativa municipal com a mudança nas regras sobre entrada de cães estava prevista para ser publicada na última sexta-feira (24). Com a abertura de um diálogo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam), a publicação foi adiada. Mas a reunião ocorrida nesta segunda-feira (27) não definiu sobre a suspensão da permissão, nem mesmo de forma excepcional para a Pedra da Cebola e, a princípio, a normativa deve ser publicada no próximo final de semana, o que mantém o grupo sob estado de indignação e alerta.
“A partir do momento que a prefeitura soltar os cachorros, mesmo com coleira, os gatos vão fugir. As colônias [de gatos] vão ser dizimadas e eles também irão atacar outros animais. Não vejo bom senso nisso”, repudia o médico neurocirurgião Fernando Furtado de Melo, um dos voluntários responsáveis por alimentar os mais de 100 gatos do parque quatro vezes na semana.
O grupo contabiliza oito colônias de gatos, além de alguns que vivem mais dispersos. “Todos são castrados e saudáveis, exceto três que foram abandonados essa semana. Mais de 20 estão com mais de sete anos da idade. São alimentados todos os dias, tratados, vermifurgados, fizeram exames de HIV e leucemia de gatos, os que testaram positivos foram retirados de lá. Eles vivem juntos com os outros animais em harmonia. Se fugirem de lá por causa dos cachorros, podem sofrer nas ruas e até invadir as casas das pessoas atrás de comida. Essa decisão da prefeitura, para mim, é maus-tratos com animais, má gestão, má política”, pondera.
Somente Fernando conta que compra 75 kg de ração por semana, além de sachê e patê. “Trabalho mais de 60 horas por semana para bancar isso. Meu único interesse é cuidar dos meus bichos”, roga o médico, que chama vários dos gatos pelo nome, até mesmo alguns dos mais ariscos, que não se aproximam de praticamente ninguém normalmente.
Nos demais dias da semana, outros voluntários se incubem da missão, entre eles a bibliotecária Denise Garcia, que compartilha do repúdio do colega. “Existe uma falta de responsabilidade da prefeitura com a infraestrutura do parque. Quem vai administrar essa convivência entre os cachorros e os outros animais? Do jeito que está hoje, vai ser impossível controlar”, afirma.
“O parque precisa de cuidados e não de politicagem”, concorda Fernando. “O parque está cheio de fitas de isolamento desde dezembro, no estacionamento, porque várias pedras de toneladas estão perto de ceder. Mas as crianças passam, não tem controle. As áreas de preservação estão sendo diminuídas, então os lagartos aumentaram dentro parque, porque começaram a sair de seus abrigos nas áreas verdes. A prefeitura fala que tudo é orientado por uma técnica e não é desmatamento, é poda. Mas na medida que cortam árvores de dezenas de anos, não entendo que isso é poda, não”, pontua.
Fernando lembra ainda que, desde que a Pedra da Cebola foi fundada, em 1997, é proibida a entrada de cachorros, exatamente para proteger a mata e os animais. “Hoje existem os gatos, mas esse cuidado é para todo o parque. Querem soltar cachorros em todos os parques e não podem sequer abrir uma exceção na Pedra da Cebola. O que a gente ouve da prefeitura é que é uma área com moradores de alto poder aquisitivo e que querem andar com seus cachorros lá também. Mas nada justifica”.
Perguntada sobre a continuidade ou não da decisão do prefeito sobre autorizar os cachorros na Pedra da Cebola, a Semmam não respondeu até o fechamento desta edição.