Uma marcha em terra e uma procissão fluvial no Rio Doce deve reunir nesta sexta-feira (30) cerca de 200 pescadores de Colatina, Linhares, Baixo Guandu e Aymorés. O ato tem início às 7h30, na Avenida Beira Rio de Colatina, com encerramento previsto para às 10h30 na Praça do Sol Poente. O objetivo central da manifestação é a defesa dos direitos dos pescadores atingidos pelo crime da Samarco/Vale-BHP.
O ato quer chamar atenção do Poder Público Municipal e conseguir uma audiência com o prefeito, Sergio Meneguelli (MDB) para tratar de sete pautas: apresentação imediata do projeto de construção do espaço que irá ser destinado à associação de pescadores; assistência social e de saúde pela prefeitura às famílias de pescadores; qualidade da água oferecida à população de Colatina; revitalização do Rio doce e das nascentes do município; cobrança à prefeitura sobre o acordo proposto pela Fundação Renova – que a prefeitura não aceite e cobre adiantamento nos processos de reparação; contratação imediata da Assessoria Técnica aos atingidos; e reconhecimento de pescadores e pescadoras ainda não cadastrados para o auxílio emergencial e indenizações pagas pela Fundação Renova.
“Temos sofrido após o crime da Samarco com a perda do nosso modo de vida, nossa renda, e a falta de reconhecimento de muitos pescadores e pescadoras. Além disso, recentemente perdemos a nossa peixaria, espaço onde comercializávamos o pescado e nos reuníamos para manter a nossa organização”, explica a presidente da Associação dos Pescadores Profissionais Nova Vida (Apevida), Andressa Karla Sacht Lemes da Rocha.
Andressa conta que a água que abastece a cidade continua sendo captada no Rio Doce e tratada pela concessionária Serviço Colatinense de Saneamento Ambiental (Sanear). A água, afirma, não é de qualidade, pois é muito comum moradores reclamarem de coceira na pele. E a maioria compra água mineral para beber e cozinhar. “A gente só usa a água da Sanear pra lavar roupa e limpar a casa. Só bebe dela quem não tem condições de comprar ou de ir buscar água melhor na nascente”, descreve.
A demolição da antiga peixaria e sede da Associação também é um dos efeitos da lama de rejeitos da mineradora, explica Andressa. Impedidos de pescar devido à contaminação do rio e dos peixes, muitos pescadores deixaram de trabalhar no município, o que serviu de argumento para a prefeitura expulsar a Apevida do local, que ocupava há 32 anos.
A desocupação se deu por força judicial e a promessa de construir uma nova peixaria e sede não consta nos autos do processo, tendo sido dita apenas verbalmente pelo prefeito em audiência judicial. “O prefeito prometeu encontrar outro local pra gente”, cobra Andressa.
Sobre a recusa em aceitar indenização proposta pela Fundação Renova ao Município, em troca da retirada de todos os processos judiciais contra ela e as e empresas criminosas, Samarco, Vale e BHP Billiton, a presidente da Apevida diz que os pescadores querem mais garantias. “A princípio o prefeito falou que não aceita, mas a gente tem as nossas dúvidas”, ressalva.
Quanto aos auxílios emergenciais e indenizações, o pescador Alcino Correia Filho, o Tinim, conta que “muita gente ainda não recebeu”. “Eu mesmo tenho cartão da Colônia de Pesca, mas como estou sem a carteira profissional [o Governo federal não emite carteiras atualizadas para os pescadores brasileiros desde 2009], a Renova não me pagou a indenização”, reclama. “Cada vez que o tempo passa, pior fica”, lamenta.
“Nós temos que abrir a boca, não podemos ficar quieto. É direito nosso. Por isso buscamos ajuda”, suplica.