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Pesquisa identifica presença de agrotóxicos em pólen apícola

Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) comprovou a viabilidade do uso do pólen apícola como bioindicador de contaminação ambiental por agrotóxicos. A presença desse material químico foi detectada em sete de 21 amostras coletadas em apiários comerciais da cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Para a farmacêutica bioquímica Renata Cabrera de Oliveira, que conduziu a pesquisa em sua tese de doutorado, o pólen comprova a presença das substâncias no ambiente, o que revela a necessidade de maior controle do uso dos agrotóxicos.

A pesquisadora salientou que em uma das amostras foi identificada a presença de uma quantidade de agrotóxicos dez vezes acima do permitido para alimentos. Para que uma quantidade tão expressiva de agrotóxicos atinja as colmeias, é necessário que a concentração dessas substâncias no ambiente seja muito elevada. A contaminação do pólen indica, ainda, que o mel produzido pelas abelhas pode estar contaminado, e também apresenta um risco aos consumidores de polén, que atualmente é vendido em lojas de produtos naturais. O estudo também estudou a afinidade dos agrotóxicos aldrin e malation com o pólen apícola e constatou que o aldrin demonstrou uma afinidade três vezes superior à do malation, que por sua vez também demonstrou grande afinidade com o pólen.

Em Ribeirão Preto, onde o estudo foi desenvolvido, já houve registro de mortes excessivas de abelhas e até de um produtor que perdeu uma colmeia inteira, provavelmente por causa da contaminação por agrotóxicos. Nas sete amostras contaminadas pelos agrotóxicos, foram encontradas presenças significativas de alacloro, aldrin, bioaletrina, endossulfan alfa, fempropatrim, permetrina e trifluralina, alguns deles pertencentes à classe dos organoclorados, que são potencialmente cancerígenos e cujo uso é proibido pela legislação. A análise também identificou a presença de piretroides em algumas amostras, substâncias muito utilizadas em inseticidas domésticos.

No Espírito Santo, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) não chegou a identificar uma mortandade massiva de abelhas, mas afirma que é nítido o sumiço das abelhas, sobretudo na região serrana do Estado, o que com certeza estaria relacionado ao aumento do uso de agrotóxicos. O MPA salienta, ainda, que o sumiço das abelhas prejudica toda a produção de alimentos, uma vez que esses animais são importantes e essenciais polinizadores de diversas culturas alimentares. Além disso, por conta dessa função, o contato das abelhas com agrotóxicos e pólen transgênico contamina lavouras inteiras de sementes crioulas, uma vez que esses animais voam por quilômetros carregando o pólen.

No estudo da Unicamp, também foram coletadas 145 amostras de pólen de um apiário experimental instalado na área da Embrapa Meio Ambiente, localizada na cidade de Jaguariúna, vizinha a Campinas, dentro de uma área de micro-reserva ambiental. Nesta área, o resultado foi diferente. Em todas as amostras, foram detectadas a presença em quantidade reduzida de dois agrotóxicos, bioletrina e pendimetalina. Era sabido que os agricultores da vizinhança faziam uso de diferentes defensivos agrícolas. A autora da tese explica que a diferença entre os resultados provavelmente se deveu ao fato de o apiário estar situado na micro-reserva ambiental, que funcionou como barreira de proteção contra os defensivos agrícolas.

A pesquisadora lembra que, nesse caso, a fonte de contaminação está próxima dos apiários, pois as abelhas viajam, em média, de dois a três quilômetros por dia em busca de alimento. Em casos excepcionais, esse deslocamento pode chegar a sete quilômetros. Além de comprovar que o pólen apícola é viável como bioindicador de contaminação ambiental por agrotóxicos, o estudo demonstrou ainda que o método pode ser aplicado a qualquer apiário ou mesmo adaptado para a análise de outros tipos de amostras, como água ou outros alimentos.

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