Pesquisadores das universidades federais do Espírito Santo (Ufes), do Rio Grande (FURG) e do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) iniciaram, nesse sábado (23), uma nova expedição na área atingida pelos rejeitos de mineração da Samarco/Vale-BHP em decorrência do crime do rompimento da barragem em Mariana (MG), em novembro de 2015.
Os trabalhos têm, até esta quarta-feira (27), o objetivo de monitorar os impactos da lama na foz do Rio Doce, em Linhares (norte do Estado), e nas unidades de conservação (UCs) federais marinhas Área de Proteção Ambiental (APA) Costa das Algas e Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Santa Cruz, em Aracruz. Em seguida, entre os dias 29 e 30, a equipe se desloca para o Parque Nacional (Parna) Marinho de Abrolhos, na Bahia.
Os pesquisadores, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), irão verificar como está o comportamento da lama de sedimentos nas unidades de conservação administradas pelo Instituto. Para isso, explica o analista ambiental do Tamar/ICMBio, Nilamon de Oliveira Leite Júnior, serão mais uma vez coletadas amostras de água, sedimentos e organismos vivos, como peixes, camarões e plâncton.
A coleta nessa época do ano, segundo Adalto Bianchini, professor e pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas da FURG, é importante porque existem mais frentes frias e diferentes condições oceanográficas, que remobilizam os sedimentos e poderão revelar novas informações sobre o comportamento da lama e seu impacto sobre os organismos.
A atual expedição coletará amostras nos mesmos pontos dos trabalhos anteriores, que detectaram a presença da lama tanto ao norte quanto ao sul da Foz do Rio Doce, extrapolando em ambas as direções as divisas do Espírito Santo.
Em julho deste ano, em relatório que reuniu o resultado das expedições, o ICMBio destacou que no banco de Abrolhos houve o registro de micropartículas de ferro, metal ainda muito presente em toda a área atingida, o que indica a necessidade de se manter o monitoramento. A preocupação é de que os sedimentos, alojados no fundo do mar, possam estar sendo levados, lentamente, para a região pelo movimento das correntes marinhas.
Dentro da extensa área atingida no Estado, foram verificados impactos relevantes na região entre Barra Nova/São Mateus e Barra do Riacho/Aracruz, incluindo, além das UCs monitoradas na atual expedição, a Reserva Biológica (Rebio) Comboios, em Linhares.
Apesar disso, o reconhecimento das comunidades do norte da Foz como atingidas, definido em março de 2017 por meio da Deliberação nº 58 do Comitê Interfederativo (CIF) – colegiado de entidades governamentais criado logo após o crime, para fiscalizar e deliberar sobre os programas de compensação e reparação dos danos -, até hoje não foi consolidado. A Fundação Renova, responsável pelo financiamento e execução dos programas, ainda não cadastrou as comunidades e mantém sua estratégia de tentar desarticular as comunidades, enfraquecendo a luta dos atingidos.
A pesca na região da foz do Rio Doce continua proibida, na área entre Degredo, em Linhares, até Barra do Riacho, em Aracruz. Mas pescadores e os próprios pesquisadores já alertaram para a necessidade de estender os limires, devido à contaminação da água e dos peixes e dos inúmeros registros de problemas de saúde nas famílias afetadas pelo crime no Espírito Santo.