O volume de pó preto que é inalado pela população da Grande Vitória equivale a cinquenta gramas por ano por habitante. A conta foi apresentada pelo vereador serrano Fabio Duarte (PDT), na sessão da última segunda-feira (16) na Câmara da Serra, ao anunciar a notificação, feita nessa quinta-feira (19) à ArcelorMittal, sobre a poluição emitida pela empresa e as expectativas de redução nos próximos cinco anos.
Presidente da Comissão Especial da Frente Parlamentar de Acompanhamento e Fiscalização das Licenças de Operação de Vale e ArcelorMittal na Câmara da Serra, Fabio Duarte intenta, com o requerimento, obter informações oficiais a respeito de números e medidas divulgadas na imprensa hegemônica e corporativa capixaba nos últimos dias, dando conta de um investimento de R$ 574 milhões para reduzir as emissões de pó preto, cujos efeitos só serão percebidos a partir de 2023.
O ofício é encaminhado ao presidente da companhia, Benjamin Mario Baptista Filho, e questiona quais os números de 2018 relativos à poluição gerada, visto que o último inventário foi realizado em 2011; quais serão os parâmetros de medições assertivas para a redução prevista para 2023; quais serão as medidas para a redução da emissão dos gases de efeito estufa na atmosfera; e quais as fontes que serão otimizadas para a redução em 1.300 kg/dia das emissões de materiais particulados, quais os seus valores atuais e para quanto reduzirão.
Na sessão na Câmara, o vereador citou números fornecidos pela ONG Juntos SOS ES Ambiental sobre a poluição do ar e os possíveis efeitos sobre a saúde. E ironizou a abordagem dada pela imprensa sobre o fato.
“A matéria procura apresentar esse projeto como se fosse um feito heróico da empresa”, criticou. “Porém, eu gostaria de lembrar que esse meio milhão em investimentos nada mais é do que o cumprimento de compromissos legais de ordem legislativa e judicial que essa empresa deve à Grande Vitória”.
“E que está longe do que precisamos e merecemos, pois levaremos cinco anos pra reduzir 22% da emissão de material particulado”, afirmou, ressaltando que esses 22% representam” 1,3 toneladas de material particulado que ela lança por dia nos ares da Grande Vitória.
Nas redes sociais, a Juntos SOS também divulgou os números, com base em um estudo feito pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e no depoimento prestado pelo presidente da ArcelorMittal durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Pó Preto na Assembleia Legislativa, em abril de 2015.
O estudo acadêmico afirma que 5% do material sedimentável que polui o ar da Grande Vitória é formado por partículas menores e mais perigosas para a saúde, chamadas de PM10 e PM2,5, que podem ser absorvidas pelo aparelho respiratório humano. Já Benjamin Baptista Filho afirmou que a siderúrgica é responsável por 5% do pó preto que paira no ar da região metropolitana.
Em sua fala no Plenário, Fabio Duarte também lembrou que, mesmo que a redução em 22% do volume de poluição possa ser considerada significativa, um volume de 4,5 toneladas de pó “ainda será baixado sobre nossas cabeças por dia” e que “em nenhum momento foi tratado pela empresa” como ela irá reduzir sua emissão de 50 toneladas de SO² emitidos na atmosfera.