Após muita tensão, foi indicado um desvio de cerca de dois quilômetros para alcançar um ponto permitido para a ação. Foram plantadas 21 árvores em homenagem aos 21 mortos pelo crime, incluindo um bebê abortado e um senhor, morador de Bento Rodrigues, que ficou acamado logo após o rompimento da barragem, entrou em profundo estado de depressão, vindo a óbito recentemente.
Foi a segunda manifestação da Marcha utilizando a estrada de ferro da Vale. Na noite anterior (31), o jantar foi servido sobre os trilhos, em Mascarenhas, no Espírito Santo. A ferrovia foi fechada durante quatro horas para a realização do ato e não houve repreensão da Polícia.
A comunidade de Cachoeira Escura (MG) possui cerca de dez mil habitantes e já é impactada pela Vale há décadas, devido à construção da estrada de ferro, que cruza a localidade, gerando transtornos permanentes e nenhuma compensação. “As riquezas da nossa região passam pela estrada e não deixam nada na comunidade”, reclama a engenheira civil Ellen Dutra, moradora e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Ellen lembra que a comunidade ficou doze dias sem água logo após o rompimento da barragem. Caminhões-pipa foram enviados, mas não eram suficientes para todos. “Muito caos e muito destrato com a população”, revolta-se a militante. E após apenas doze dias, a prefeitura voltou a captar água do rio, mas desde então, as pessoas têm sofrido com diversos problemas de saúde, como coceiras, manchas na pele, dores de cabeça e, principalmente, diarreia.
“Os próprios médicos dizem para não beber a água”, alerta a engenheira, especialmente as crianças, devido a esses males e, a longo prazo, risco de doenças degenerativas. A minoria das pessoas, que tem melhor poder aquisitivo, compra água mineral ou fura poços e alguns moradores disponibilizam essa água para a comunidade.
“Muita gente anda quilômetros pra buscar um galãozinho de água nessas bicas, pra beber e cozinhar. Pra tomar banho e o restante dos usos é a água do rio. E a gente não sabe as consequências disso. A Samarco não providenciou nenhuma solução, nem mostrou intenção em resolver. Só repete que a água tá boa, mas a população está desconfiada, não acredita”, relata Ellen.
A moradora lamenta ainda a postura do poder público municipal, que “defendeu a Samarco com unhas e dentes, dizendo que a água está boa”. O prefeito, conta, chegou a beber água na frente das câmeras de televisão.
No entanto, foi muito bem noticiado há algumas semanas os resultados das análises realizadas pelo Ministério Público Federal, que concluíram pela contaminação da água de Governador Valadares com alumínio. “Se em Valadares não está potável, aqui também não está, pois aqui é ainda mais perto da barragem e o tratamento da água é mais precário”, revolta-se. Apesar da orientação do MPF no sentido da Samarco voltar a abastecer a cidade com água mineral, nada foi feito.
Essa questão da qualidade da água foi retomada na audiência pública realizada pela manhã, em Governador Valadares. A audiência foi solicitada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Outro ponto de destaque na audiência foi a questão indígena, havendo a presença de membros das etnias Tupiniquim e Krenak.
O MAB voltou a destacar a necessidade de união dos atingidos, a caracterização do desastre como crime e a violação dos direitos humanos promovida pela Acordo feito entre a empresas e os governos federal e do Espírito Santo e Minas Gerais.