O silêncio das prefeituras de Vitória e Serra sobre o último crime ambiental da Vale S/A deixa no ar algumas perguntas fundamentais para o entendimento dos reais impactos ambientais provocados pelo vazamento dos efluentes industriais ocorrido no dia primeiro de dezembro.
O local está no limite entre Serra e Vitória e o endereço da tragédia foi alvo de discussão entre a Prefeitura da Serra, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e moradores de ambas as cidades, mas até o momento, nenhuma das duas prefeituras divulgou resultados de seus estudos e providências tomadas.
A ONG Juntos SOS ES Ambiental conta que já inquiriu a Prefeitura de Vitória, no dia do ocorrido, e ainda não obteve retorno. O prazo limite para atendimento à demanda é o próximo dia 31. “Com certeza está muito silente em respeito ao caso”, opina o presidente da entidade, Eraylton Moreschi Junior.
Já a Secretaria de Comunicação da Serra, em resposta ao questionamento feito por Século Diário, informou que o Departamento de Fiscalização da Prefeitura colheu amostras nas praias e concluiu que “a contaminação não chegou ao mar da Serra”. Mais detalhes sobre os estudos feitos pelos técnicos locais, como local amostrado, quais análises foram feitas e por quais laboratórios, ainda não foram respondidos.
“E a grande pluma fotografada em Carapebus?”, pergunta o ambientalista, lembrando fotografia amplamente divulgada nos dias que se sucederam ao crime, e reproduzida nesta reportagem, feita por um morador de Praia de Carapebus, mostrando uma grande mancha marrom escura vinda da direção do local do vazamento e cobrindo boa parte da praia do bairro.
“Vergonha! Eles têm os laudos técnicos das análises da água do mar da Serra feito por laboratório isento e idôneo? Tenho conhecidos que viram os peixes mortos e entre eles havia baiacu e outras espécies marinhas”, questiona Eraylton. “Estão se fingindo de mortos, Vitória e Serra”, confronta.
O Iema foi o único a aplicar alguma penalidade à empresa, mesmo assim, com atraso. Em nota divulgada na última quarta-feira (20), o Instituto divulgou um resumo das conclusões das análises feitas e o valor da multa aplicada: R$ 1,62 milhão.
Na nota oficial, o órgão estadual contesta a afirmação da mineradora, provando que ela mentiu ao dizer que havia tratado os efluentes, conforme declarações do gerente de Relações com a Comunidade da empresa, Daniel Rocha Pereira, dando conta de que “o procedimento é previsto junto aos órgãos ambientais em situação de chuva extrema e que o material é inerte e já havia passado pelo sistema de tratamento, sendo lançado por um ponto licenciado pelo órgão ambiental e monitorado constantemente pela Vale”.
O não tratamento dos efluentes, segundo o Iema, violou a condicionante ambiental 09/2002 e levou ao descumprimento dos “padrões de sólidos em suspensão total, como definido na resolução do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema) 02/91”.
A nota diz ainda que “o lançamento desses efluentes no mar atingiu a água, o solo e a biota marinha (fauna e flora), devido ao aumento da turbidez e sólidos suspensos na coluna d’água. O aumento da turbidez da água pode afetar a distribuição de espécies, o comportamento, a alimentação, a reprodução e a sobrevivência da biota aquática”.