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Projeto da Ufes mapeia conflitos socioambientais da Grande Vitória

“Territórios do Presente” utiliza tecnologias digitais, como realidade virtual e vídeos em 360 graus

Divulgação

A Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) tem um histórico de urbanização desenfreada, impulsionada por grandes empreendimentos econômicos que começaram a se instalar, sobretudo, a partir dos anos 1960. Os conflitos socioambientais decorrentes desse processo são destacados pelo projeto Territórios do Presente, a partir de mapas, vídeos, textos e tecnologias digitais interativas, como realidade virtual e vídeos em 360 graus.

A iniciativa é do Grupo de Pesquisa em Cultura Audiovisual e Tecnologia (CAT), do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (DepCom/Ufes). Com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Espírito Santo (Fapes), foram realizadas ações presenciais do projeto durante este ano, e também foi lançado um site oficial com todo o material disponibilizado gratuitamente, além de um perfil no Instagram que busca manter as informações atualizadas.

São nove territórios destacados pelo projeto, seis deles localizados na Capital: bairro Jesus de Nazareth, manguezal, Vale do Mulembá, Camburi (pó preto), Morro da Fonte Grande e Morro do Jaburu. Em Vila Velha, há material a respeito do Canal da Costa, da colônia pesqueira de Itapuã e da Reserva Ecológica de Jacarenema, na Barra do Jucu.

No site, há uma página dedicada a cada uma desses territórios, com texto explicativo, vídeo e algumas fotografias. É possível acessar, também, a parte imersiva do projeto, com vídeos de visualização em 360 graus de cada um dos lugares – nas intervenções presenciais do projeto, óculos de realidade virtual permitiam acessar os espaços de forma ainda mais imersiva.

De acordo com a professora Daniela Zanetti, coordenadora do CAT, o projeto surgiu há dois anos, a partir da vontade de aliar o trabalho com mídias interativas – tema que leciona na universidade – com questões territoriais e socioambientais. Por conta da limitação orçamentária, o projeto se restringiu à Grande Vitória.

“Mesmo em um ambiente urbano, como o da Grande Vitória, esses conflitos existem. A questão do pó preto, por exemplo, é algo que a gente acaba naturalizando, mas existe um conflito envolvendo essa questão”, explica.

Uma das inspirações para o projeto foi o Mapa de Conflitos envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que aponta a existência de 18 conflitos no Espírito Santo – isso inclui questões relacionadas à poluição, descarte de lixo, licenciamentos ambientais irregulares, demarcação de terras, monocultura, uso de agrotóxicos e muitos outros.

Além das informações prévias do mapeamento da Fiocruz, foi feito um levantamento em bancos de dados acadêmicos para identificar pesquisas que abordassem conflitos socioambientais na Grande Vitória, bem como reportagens sobre esses temas.

“O projeto tem um pouco esse caráter de denúncia e também de divulgação científica. Mas a ideia é que, depois, a proposta se desdobre em outras ações, para tentar trazer o que as comunidades oferecem como resposta a esses conflitos, o que pode ser feito como alternativa”, comenta Daniela.

Em maio deste ano, a equipe do projeto esteve no ESX – ES Innovation Experience 2023, maior feira de inovação do Espírito Santo, e em outubro, no hall da Biblioteca Central da Ufes. Nos dois casos, foi oferecida ao público a possibilidade de acessar territórios por meio dos óculos de realidade virtual. Esses lugares incluíram áreas de preservação diversas, como o Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari.

Divulgação

“Esses espaços estão próximos de nós, mas muita gente nem conhece, então é uma forma de proporcionar esse contato. Mas é uma outra vivência, não é que vá substituir o presencial. Junto às imagens, são colocados pequenos textos sobre conflitos daquela região, além de algumas propostas de solução”, explica a coordenadora.

Impactos

Na parte destinada ao pó preto em Camburi, há informações sobre a poluição atmosférica causada pelas empresas Vale, Arcellor Mital, no Complexo de Tubarão, e Samarco, em Anchieta, sul do Estado.

Dentre os lugares destacados no “Territórios do Presente”, no bairro Jesus de Nazareth, são abordados o histórico do bairro, a subvalorização do poder público, estigmas e coleta irregular de lixo, bem como projetos comunitários, como o Tour do Morro. Sobre o manguezal de Vitória, a página do projeto fala da ameaça representada pelos grandes projetos imobiliários.

No Vale do Mulembá, por sua vez, o foco é na importância do local para a retirada do barro utilizado para a produção da tradicional panela de barro.

No Morro da Fonte Grande, destaca-se que o parque foi criado em 1986 após a morte de 40 pessoas, decorrente do deslizamento de uma rocha. No Morro do Jaburu, o destaque fica por conta dos projetos de horta comunitária.

Já o Canal da Costa, inicialmente chamado de Rio da Costa, tem 6,1 quilômetros de extensão e passou por uma série de adequações aos novos contornos da cidade de Vila Velha, tornando-se um sinônimo de esgoto a céu aberto. Em Itapuã, a Colônia de Pescadores sofre com as pressões do desenvolvimento de Vila Velha. E no caso da Reserva Ecológica de Jacarenema, trata-se de um território que reúne mangue, restinga e mata atlântica, mas que ainda carece de atenção do poder público. 

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