A Lagoa e os Alagados estão classificados no atual PDM como Zona Especial de Interesse Ambiental (ZEIA) e formam um ambiente muito frágil e ao mesmo tempo essencial para a drenagem do município. “São três milhões de metros quadrados, absorve uma quantidade enorme de água”, ressalta Wilerman da Silva, membro do Fórum de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental da Grande Vale Encantado (Fórum Desea), um dos coletivos que luta pela proteção formal desses ecossistemas.
O bairro Vale Encantado divide a área da Lagoa e a área dos Alagados em duas microbacias, ambas integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Jucu. Funcionando como uma espécie de esponja, esses ambientes atuam de forma excepcional na regulação hídrica, além de aumentar a umidade relativa do ar e tornar a temperatura local mais amena, formando um microclima mais agradável.
O avanço dos empreendimentos portuários, residenciais e industriais sobre eles irá agravar sobremaneira a já acentuada repetição de eventos de alagamentos que assolam, historicamente, o território canela-verde.
Outra singularidade, informa Wilerman, é o afloramento do lençol freático em toda a região, tornando-o muito vulnerável à contaminação. O frequente lançamento de esgoto doméstico sem tratamento nos corpos d' água já está, certamente, tendo reflexos na qualidade da água, avalia o membro do Desea.
Essa deficiência do saneamento básico é um empecilho, inclusive, ao pleno desenvolvimento do potencial turístico, acrescenta Wilerman, pois a beleza das lagoas e sua grande biodiversidade, já parcialmente catalogada, é um convite ao lazer, contemplação, banhos e prática de esportes.
Localizadas na área de expansão do município, as duas microbacias necessitam de um plano de ocupação sustentável. “A área vai ser ocupada, não é possível impedir. Mas isso precisa acontecer de forma adequada para todo mundo, que permita os investimentos dos empresários interessados, mas que não prejudique o morador de Vila Velha”, afirma.
Protesto e reflorestamento
Uma das formas de chamar atenção da população e do Poder Público para a importância ecológica da região tem sido a realização de mutirões de limpeza e reflorestamento. O último aconteceu neste domingo (27), no Morro do Carcará, localizado na Área de Preservação Permanente (APP) da Lagoa Encantada.
Voluntários realizaram o plantio de mudas nativas em um ponto crítico do Morro, onde ocorrem seguidos desmatamentos ao longo dos anos, sendo o último em 2015, que destruiu 1,5 hectare de floresta, com autorização do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf).
O ato foi também um protesto diante do que os ativistas chamam de descaso das autoridades com relação à cobertura florestal do Carcará. Em 2013, contam, o monte ainda conservava 80 mil m² de mata nativa. Em quatro anos, apenas 30 mil m² resistem, sendo a maior parte desmatada irregularmente.
“São desmatamentos e queimadas feitos sistematicamente para descaracterizar e destruir a mata mais preservada, acelerando a degradação. A vegetação, então, inicia a regeneração, e por não aparentar ser uma mata antiga em estágios mais avançados de regeneração, entram com um pedido de supressão da vegetação, o que é prontamente atendido por órgãos públicos como o Idaf”, denunciam, em sua página no Facebook, os ativistas do Fórum Desea.
PDM
A proposta de transformação da Lagoa e dos Alagados do Vale Encantado em unidade de conservação tem sido defendida desde o início das discussões do novo PDM e promete ser um dos pontos de destaque deste Fórum na Região 4, que acontece a partir das 19h na Escola Pedro Herkenhoff, em Cobilândia.
Outros dois Fóruns Regionais ainda acontecerão, nos dias cinco e seis de setembro, nos bairros São Conrado e Praia das Gaivotas, respectivamente.
A expectativa é de que, ao final desse processo de consultas públicas, a proposta seja enviada para votação na Câmara de Vereadores até o dia 20 de novembro. O novo PDM norteará o desenvolvimento urbano de Vila Velha pelo período de 2017 a 2027.