Na ausência de uma atitude positiva por parte da Imetame, é preciso judicializar a luta para preservar “a melhor onda do Espírito Santo”, em Aracruz, norte do Estado. A decisão foi anunciada nesta segunda-feira (4) pelo presidente da Comissão de Turismo da Assembleia Legislativa, Carlos Von (Avante), após reunião do colegiado dedicada ao assunto, quando foi encaminhada a proposta de uma ação popular com pedido de liminar a ser impetrada no Ministério Público Estadual (MPES).
Surfistas presentes na reunião explicaram tratar-se de uma onda de alta performance e de importância nacional, imprescindível na formação de surfistas profissionais e que atrai os melhores surfistas do Brasil até o chamado pico Secret (segredo, em inglês).
A expansão do porto da Imetame é feita a cerca de 50 metros do ponto crítico do pico. A solução mais indicada seria promover um desvio de 5º na direção do píer, salientou o surfista Alexandre Goés Batalha, que é empresário do setor de consultoria ambiental e participou dos estudos técnicos que viabilizaram a liberação da licença ambiental do empreendimento e que mostraram a possibilidade real de adequação da obra para a convivência com o surfe.
Um dos articuladores do movimento de ativismo ambiental Temporada Azul, Alexandre destacou ainda que, além do surfe, o desvio será benéfico também para a vida marinha local e todo o segmento de turismo da região. A proposta, porém, já foi apresentada diretamente ao presidente da Imetame, Etore Selvatici Cavallieri, que chegou a manifestar apoio à proposta, mas depois rompeu diálogo com o Temporada Azul e seguiu com o projeto inicial das obras.
O empreendimento total deve receber investimentos orçados em R$ 1,7 bilhão, informou o consultor e ativista, enquanto a modificação sugerida teria impacto menor que R$ 1 milhão. “Existe uma alternativa de manter o porto e a onda. Nós não somos contra o porto. Nós não somos contra o empreendimento. Nós somos contra acabar com a melhor onda que nós temos no Estado”, enfatizou durante a reunião da Comissão de Turismo, ressaltando que a construção de uma onda artificial, como compensação socioambiental pelo impacto negativo da obra, sairia muito mais cara.
Uma ação popular visando proteger a onda já foi impetrada pela Comissão de Turismo na promotoria de Aracruz, sem sucesso. Por isso agora a intenção de judicializar a partir da Capital.
Proponente da reunião, o deputado Torino Marques (PSL) disse que a onda está praticamente “condenada à morte” e questionou o peso da interferência humana na natureza. Para ele, há viabilidade para criação de um projeto de lei que obrigue a anuência da comunidade esportiva na concessão de obras que causem impacto ambiental.
A campanha para mantê-la ganha adeptos nas redes sociais e conta com o apoio de surfistas de renome, que disputam inclusive o World Surf League (WSL), como Filipe Toledo, vice-campeão mundial em 2021.
A onda
Surfista profissional, Rodrigo Cardoso afirmou que o Secret não deixa nada a desejar a nenhum outro país com tradição no surfe, como Austrália e Indonésia. Profissionais de elite mundial já surfaram e aprovaram o pico, considerado por alguns o mais perfeito do Brasil. “Pessoas do país inteiro, através das redes sociais e da internet, viram a onda e querem vir surfá-la de qualquer maneira”, destacou.
A pentacampeã mundial de bodyboard Neymara Carvalho concordou com a qualidade do Secret, assim como o analista de um dos sites de previsão de ondas mais acessados no Brasil, Roberto Figueiredo. Mais conhecido como Betola, ele falou das características da ondulação. “Como é uma onda rara e muito perfeita, ela se forma muito longe da costa. São ondulações com ciclones extratropicais que se formam quase perto da África e abre uma ondulação muito grande, muito potente para o Espírito Santo”.
“A onda ainda existe, mas ela já foi um pouco prejudicada porque o píer já está quase encostando nela”, frisou. “Se o píer desviar um pouco, eu realmente acho que realmente é possível salvar essa onda”, concluiu.