Surgida no Espírito Santo, a Campanha Nem Um Poço a Mais tem sido uma das mais importantes iniciativas no Brasil de questionamento do impacto da exploração petroleira. Um almanaque que reúne um apanhado das lutas travadas nos últimos três anos a partir da articulação de comunidades afetadas, ONGs, coletivos e movimentos sociais será lançado nesta quinta-feira (14), às 19h, na sede da Federação dos Órgãos de Assistência Social e Educação (Fase), no Centro de Vitória.
Junto com a apresentação da publicação, também será realizada uma roda de conversa com o tem “Petrodependência e Despetrolização”, quando será discutida a realização de uma manifestação pública sobre a contaminação por petróleo do litoral do Nordeste, que desde a semana passada alcançou também o Espírito Santo. As atividades fazem parte da III Semana Sem Petróleo, uma das iniciativas surgidas a partir da campanha, cuja programação terá atividades diversas na sexta-feira na Barra do Jucu e no sábado no Centro de Vitória.
O Almanaque da Campanha Nem Um Poço a Mais, que será apresentado e distribuído nesta quinta-feira, possui mais de 100 páginas e uma tiragem de 500 exemplares. Os primeiros foram distribuídos para diversos grupos do Brasil e do exterior na última reunião da rede de Oilwatch, articulação internacional que questiona os impactos da exploração petroleira pelo mundo.
“A publicação registra os anos de construção coletiva da campanha, traz reflexões, e ao mesmo tempo registros dos momentos de construção. É uma proposta de publicação diversa, tendo desde depoimentos de movimentos a textos críticos, relatos dos encontros, ressaltando a problematização sobre a expansão da exploração de petróleo e gás nos territórios”, explica Daniela Meirelles, da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase).
Ela considera o momento mais que oportuno para abordar o tema, diante do desastre ocorrido recentemente com derramamento de óleo que acaba de chegar no Espírito Santo. “É um derrame um pouco misterioso na sua origem, mas não tem mistério nenhum que o petróleo contamina, é contaminante. De onde veio nem é o mais importante no momento, é preciso resolver a situação com a devida seriedade e repensar a exploração dessa quantidade de petróleo, que é devastador para muitas vidas, afetando a natureza e especialmente povos tradicionais, como os pescadores, que vêm sendo muito prejudicados mas têm suas vozes ignoradas”, aponta Daniela.
Segundo ela, a proposta do almanaque é servir como memória dessa atuação e também como fonte de estímulo e inspiração para novas ações no futuro.
A Campanha Nem Um Poço a Mais, que se iniciou no Espírito Santo, logo abriu diálogo com grupos e ativistas de outros lugares como Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Pará, Rio Grande do Sul e também outros países da América Latina e Europa. “Apesar de aparecer pouco, a resistência existe. Há muita resistência e uma ampla gama de críticas nos lugares onde se explora petróleo. A Campanha está fazendo esse trabalho de articulação dessas críticas para dar mais voz e provocar mais escuta a esses conflitos que aparecem em todos os territórios”. A unanimidade não existe, sugere Daniela Meirelles. Ainda que o governo não permita o direito das comunidades dizerem não à exploração petroleira e mineral em seus territórios, elas insistem em dizer não e buscam construir um eco cada vez mais forte.
A sede da Fase, onde acontece o lançamento e debate, é na Rua Graciano Neves, 377, Centro de Vitória.