A única forma de evitar mais essa tragédia é acentuar o trabalho de apoio aos pequenos produtores familiares, no sentido de diversificarem sua produção e investirem em alimentos variados, que abastecem suas mesas e as das cidades. “E produção diversificada significa também renda mais diversificada para as famílias e mais alimentos saudáveis nas mesas do campo e da cidade”, pondera a liderança camponesa.
Daí a razão para que a maior dedicação das lideranças camponesas, nesse momento, é exatamente essa conscientização e mobilização das famílias. A polêmica do café conilon, por exemplo, que está prestes a ter a importação autorizada pelo presidente Michel Temer, é acompanhada pelo MPA à distância.
Por ora, a avaliação é de que a importação, se aprovada, vai atingir, nesse momento, mais os grandes produtores, que conseguiram driblar a seca com investimentos em poços artesianos profundos e com a substituição da irrigação por aspersão pelo microjet e o gotejamento.
Os pequenos, já endividados desde o início da crise hídrica, em 2014, não conseguiram salvar sua produção. “O pequeno, se conseguir alguma coisa, será daqui a 60 dias. A lavoura estava tão castigada, que nem as chuvas do final de 2016 conseguiram trazer a floração”, relata Dorizete.
Já os grandes cafeicultores, reuniram-se no “Movimento Agricultura Forte ES”, e têm realizado intensa pressão política, inclusive realizando obstrução de rodovias, como aconteceu nessa segunda-feira (20) e ocorrerá na quarta-feira (22) em Água Limpa, distrito de Jaguaré.
Dorizete conta que o MPA avalia essa possível crise do café conilon não apenas como possibilidade de muitos prejuízos para os cafeicultores – grandes, médios e pequenos –, mas também como oportunidade de diversificação de produção, a exemplo do que já vem sendo trabalhado com relação à pimenta-do-reino.
Outra possibilidade é favorecer ainda mais a expansão do eucalipto. Se em municípios como Pinheiros, Pedro Canário e Conceição da Barra, a monocultura já avança sobre a cana-de-açúcar, em São Mateus e todos os demais produtores de café, o deserto verde pode também se favorecer e voltar a acelerar sua expansão, seja para produção de celulose para Aracruz (Fibria) e Suzano, seja para produção de móveis ou de placas de MDF.
Nessa segunda, a Fibria comunicou, no Diário Oficial, seu requerimento ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), de Licença Prévia (LP-S) e Licença de Operação (LO-S) para plantio de 296,60 hectares de eucaliptos na Fazenda Modelo, em São Mateus.
Já foi contabilizado, somente este ano, um total de 723,51 hectares que devem se transformar em monocultura de eucaliptos nos municípios de Pinheiros e São Mateus. E nenhuma notícia sobre plantios do Programa Reflorestar.