E as farinheiras são uma das mais destacadas expressões da cultura dos descentes dos antigos quilombos, seja pelo ponto de vista gastronômico, pois a mandioca e seus derivados formam a base da alimentação desse povo tradicional, seja pela importância econômica que a produção da mandioca historicamente sempre ocupou entre as comunidades quilombolas.
A Casa de Farinha do S. Eugenio será reinaugurada em um evento que acontece nas próximas sexta e sábado (11 e 12), junto à celebração da padroeira local, Santa Clara. A programação conta com procissão, reza, missa, cantigas de roda, contação de histórias, fogueira, Seminário Agroecologia e a Mandioca, vivência na farinheira, reis de boi, Caxambu de Monte Alegre, bingo e forró.
O projeto de restauração e reinauguração é de duas descendentes de S. Eugenio, a Bárbara Trindade e a Letícia Camilo, que aprovaram o projeto em um edital cultural. A intenção é, além do resgate cultural, impulsionar a produção e a comercialização da farinha e do beiju, fonte de renda importante para os locais.
Uma barraca de venda desses produtos também será inaugurada, devendo atrair os turistas que chegam à famosa Vila de Itaúnas, em Conceição da Barra, vizinha próxima do Angelim 1, e que de lá são instigados a conhecer os quilombos nos arredores, sua cultura e culinária típica.
Patrícia Almeida, colaboradora na divulgação do projeto, destaca o contexto atual da comunidade, castigada com os solos degradados e a escassez de água, que dificultam a agricultura tradicional, inclusive a da mandioca.
Em julho, por exemplo, a bomba de água do poço artesiano parou de funcionar. Consertada há poucos dias, tem retirado uma água barrenta. “Pedimos à Prefeitura pra fazer análise, mas até agora a gente não sabe porque a água está assim”. A situação financeira das famílias, já tão fragilizadas, agora tem que suportar os gastos com compra de água mineral. “Para tomar banho e lavar roupa, louça, a gente 'tá' usando”, diz.
Conceição da Barra já foi o maior produtor de mandioca do Estado, produto que já figurou em segundo lugar na economia agrícola capixaba, atrás somente do café. A chegada dos eucaliptais da Aracruz Celulose (Fibria), que substituíram as seculares florestas de tabuleiro da região, secou córregos, rios e nascentes, expulsou milhares de quilombolas, indígenas e camponeses, arrasou a economia local, com a produção de desemprego, seca e deserto verde. “A mandioca é a sobrevivência das nossas famílias. Ou é isso ou é procurar emprego fora, na cidade. Não tem muito para onde fugir”, conta Patrícia.
Serviço:
Reinauguração da Casa de Farinha
Data: 11 e 12 de agosto
Horário: Sexta de 6h às 20h e sábado de 7h às 22h30
Local: Comunidade Quilombola Angelim 1 (próximo à Vila de Itaúnas, em Conceição da Barra)