Projeção do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras (MG), aponta que 15 animais são mortos por segundo nas rodovias do País, o equivalente a 1,3 milhão por dia e até 475 milhões por ano. Os números foram publicados em matéria da BBC Brasil, que destacou os casos registrados no trecho da BR 101 no norte do Espírito Santo.
O atual cenário coloca os atropelamentos como a principal causa de morte de bichos silvestres, superando a caça ilegal, desmatamento e poluição, como apontam especialistas entrevistados na matéria.
Quem puxa a lista, afirmam, são os pequenos vertebrados, como sapos, cobras e aves de menor porte – respondem por 90% do massacre, ou 430 milhões de bichos. O restante se divide em animais de médio porte (macacos, gambás), com 40 milhões, e de grande porte (como antas, lobos e onças), com cinco milhões.
A BBC relembra os atropelamentos registrados no Estado e a luta da entidade Últimos Refúgios, que debate alternativas para impedir que a lista de mortes aumente. Entre o casos citados, estão o atropelamento de uma anta (maior mamífero terrestre brasileiro) na margem da pista e de uma onça-pintada, além da fêmea adulta de harpia, a maior ave de rapina das Américas, encontrada no trecho da rodovia debilitada por fraturas e hematomas.
Ao jornal, os especialistas ressaltam que a situação é o resultado natural para um país que desconsiderou os bichos ao planejar as rodovias e ainda dá os primeiros passos na adoção de medidas para minimizar os impactos das vias.
“Está acontecendo uma desgraça total e não temos tempo nem de estudar o que ocorre”, disse à BBC Brasil Áureo Banhos, professor do departamento de biologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
A matéria informa que Banhos coordena um time que monitora os atropelamentos no trecho de 25 km da BR-101 que corta uma das manchas verdes mais intactas do país. É um mosaico de 500 km² (ou um terço da cidade de São Paulo) de unidades de conservação rasgado pela pista única da via.
Ele faz um alerta à BBC: das 70 espécies de morcegos identificadas na região, 47 já foram atropeladas na estrada – e uma delas era desconhecida da ciência até então. Ao todo, 165 espécies de diferentes animais perderam a vida por ali (10 anfíbios, 21 répteis, 63 aves e 71 mamíferos) – são 50 mortes por dia apenas nesse ramo da rodovia, ou 20 mil por ano.
A matéria informa ainda que essa floresta integra as reservas de mata atlântica da Costa do Descobrimento, patrimônio natural da humanidade desde 1999. Por ser um raro fragmento contínuo de mata, é o último refúgio na região para várias espécies ameaçadas, como a anta, a onça-pintada, o tatu-canastra e a harpia.
“A situação da BR-101 no Espírito Santo – que ainda enfrenta a perspectiva de duplicação até 2025 – é uma amostra aguda de um problema nacional. São mais de 15,5 mil km de estradas atravessando áreas federais de conservação”, destaca a publicação.
Cenário alarmante
O trecho da BR 101 no Estado em Sooretama tem 25 quilômetros e é cortado pela Reserva Biológica de Sooretama e a Reserva Natural do Parque da Vale, e também duas áreas menores, as Reservas Particulares do Patrimônio Natural Mutum-Preto e Recanto das Antas.
A ampliação e duplicação da BR 101 é motivo de preocupação para entidades ambientalistas, porque irá agravar os impactos.
O elevado índice de casos resultou em mobilização do Ministério Público Federal (MPF-ES), movimentos sociais e órgãos responsáveis, para a construção de um modelo eficaz de combate à mortandade da fauna local. O MPF tem um procedimento administrativo na Procuradoria da República em Linhares, para acompanhar e fiscalizar a regularidade ambiental das obras da rodovia no norte do Estado.
Entre as medidas emergenciais apresentadas para tentar evitar que a situação se perpetue, estão a redução da velocidade dos veículos de 60km/h para 25km/h na região das reservas; a instalação de radares inteligentes; a desobstrução dos túneis de drenagem de água, que podem servir como passagem da fauna; o cercamento da via de forma direcional para os túneis; e a promoção de ações de sensibilização dos usuários.
Já uma petição feita via Avaaz, a rede mundial que promove mobilização para problemas enfrentados pela comunidade, defende um traçado alternativo para evitar que a BR-101 passe no meio da Rebio de Sooretama.