Quando os desfiles de Carnaval terminavam, o entorno do Sambão do Povo se enchia de restos de fantasias dos foliões, que podiam inclusive ir longe e chegar à baía de Vitória pela foz do RIo Santa Maria, que passa ao lado do sambódromo.
Foi diante desse problema, que em 2009 moradores da região de Santo Antônio se organizaram no âmbito comunitário no que se tornou o projeto Reciclafolia, que ao longo de sua existência reaproveitou mais de 50 toneladas de fantasias. Quem é folião já sabe que ao final da avenida lá estará uma equipe pronta para fazer a conscientização e a coleta de fantasias, que são destinadas à reutilização por escolas de samba de outros municípios, blocos, artesãos, unidades de ensino, projetos sociais e culturais, entre outros. Só no ano passado, foram seis toneladas recolhidas. Neste ano, a equipe do projeto e voluntários estão a pleno vapor após os desfiles da semana passada.
Apesar do nome Reciclafolia, dado na época pelas criadoras do projeto, a atividade consiste em reutilização, aumentando a vida útil dos materiais e evitando o descarte inadequado e desnecessário. Nos pilares da sustentabilidade se consideram 4 R's: Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar.
Projeto sem fins lucrativos, o Reciclafolia ainda lamenta o pouco apoio do poder público. Uma das demandas é para maior organização na dispersão do Sambão do Povo, já que o atual formato dificulta não só a ação do projeto, mas também a circulação dos foliões e outras questões estruturais.
O Reciclafolia já encaminhou para autoridades a documentação necessária para obter o reconhecimento de serviço de utilidade pública, que poderia facilitar parcerias. Atualmente, além das diversas entidades sociais e culturais, o projeto também trabalha com associações de catadores como Ascamaris, Amarives e Limpa Brasil.
Buscando ampliar a conscientização, neste ano o projeto também reforçou a atuação nas redes sociais para aumentar o alcance e participação. “A ideia é trazer o folião e a sociedade capixaba para junto do projeto e divulgar em forma de dados, vídeos e fotos do histórico das ações desenvolvidas ao longo dos anos”, explica o texto do projeto.
Em mais de uma década de atuação, os gestores estimam que o projeto pode alcançar um público de mais de 50 mil pessoas, tendo realizado 700 oficinas em municípios do Espírito Santo e de Minas Gerais. Segundo os organizadores, o Reciclafolia foi pioneiro no despertar do reaproveitamento das fantasias, tendo inspirado inclusive o mesmo processo em outros locais como o Rio de Janeiro, fomentando o ganho social e ambiental para as cidades, atendendo a pilares como o socioambiental, de inclusão social, fortalecimento do trabalho artesanal e conscientização ambiental.