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Redes de pesca artesanal são maior ameaça a golfinhos e botos no litoral capixaba

Golfinhos não migram, são residentes e habitam áreas costeiras, próximas da praia. Ao ficarem impossibilitados de subir à superfície para respirar, morrem de exaustão e afogados em no máximo 15 minutos. Salvá-los após se emaranharem em uma rede de pesca, portanto, é algo muito raro. Eles geralmente vêm a óbito antes que o pescador consiga encontrá-lo com chances de sobreviver.

Existem três formas de um golfinho avistar uma rede de pesca esticada na sua frente e assim evitar de se enrolar nela: a audição, a visão e a ecolocalização. Ocorre que as redes de espera, especialmente usadas na pesca artesanal, que mais vitimizam esses mamíferos, tem malhas muito finas e de difícil identificação por eles. Os filhotes e jovens são as principais vítimas, exatamente por serem menos experientes. Fêmeas não se enganam tão fácil e machos adultos geralmente são mais fortes, conseguindo se soltar a tempo.

Geralmente, ao encontrar um golfinho ou boto preso morto em uma rede, o pescador, para não perder seu artefato, corta apenas um pedaço dele, junto de uma parte do corpo do animal e solta a carcaça no mar. Ele teme que, se mostrar o cadáver às autoridades ambientais, seja penalizado. Um levantamento feito pelo Instituto ORCA (Organização Consciência Ambiental) em 2011 mostrou que 97% das embarcações no Espírito Santo são artesanais. Daí tem-se uma dimensão do perigo.

Qual a solução? Inovações tecnológicas no material de que é feito as redes têm sido testadas em outras partes do mundo, mas até agora nada mostrou grande eficiência. Na opinião de Lupércio Barbosa, diretor do ORCA, é preciso revisar a legislação pesqueira, que é hoje um emaranhado de leis que não se comunicam muito bem entre si; e reforçar a fiscalização sobre a legislação vigente que proíbe, por exemplo, a pesca artesanal em bocas de rio, em estuários ou costões rochosos, mas todas são práticas muito comuns em todo o litoral.

Lupércio acredita que o boto cinza (Sotalia guianensis) esteja ameaçado de extinção, apesar de não constar na lista de espécies ameaçadas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Seu status populacional oficial é de “insuficientemente conhecido”, por isso não se tem certeza, mas tudo indica que sim.

Em todo o país, as instituições e pesquisadores que estudam a espécie têm observado uma redução das populações. O maior grupo já avistado na capital capixaba, segundo relata o diretor do ORCA, tinha cerca de 60 indivíduos. Eles estavam na baía de Vitória pescando tainhas quando foram cercados por pescadores. Ao emitirem assobios para fora da água, chamaram atenção de transeuntes no calçadão, até que uma senhora telefonou para o Ibama pedindo para intervir junto aos pescadores. A ONG também foi comunicada e pôde chegar ao local e observar o grupo pescando.  Um espetáculo raríssimo, infelizmente. 

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