Programação da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária inclui debates, painéis e plantios de mudas
Reforma agrária popular e projeto de país são os dois temas centrais que guiam a programação da nona edição da Jornada Universitária em defesa da Reforma Agrária (Jura) no Espírito Santo. No campus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) de São Mateus, no norte do Estado, o evento ocorre entre os próximos dias 20 e 22 de julho, e, em Goiabeiras, em Vitória, nos dias 21 e 22. No Brasil, a Jornada acontece em mais de 50 diferentes instituições de ensino superior (IES), algumas tendo realizado as atividades em maio, como no estado do Pará, na região amazônica.
Com base nas edições já realizadas, a expectativa é envolver “milhares de estudantes, professores e militantes populares em debates, estudos, lançamento de livros, troca de experiências, plantio de árvores, atividades de solidariedade, entre outras no sentido de exercitar a escola da participação, do protagonismo”, convida o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-ES) em suas redes sociais.
A partir dos dois temas centrais, haverá três mesas temáticas. A primeira, sobre reforma agrária popular e os 200 anos da Independência do Brasil.
A segunda, novamente sobre reforma agrária, mas com foco no questionamento contra a política de titulação de terras promovida pelo governo federal, que visa camuflar a ausência de medidas efetivas para a justiça fundiária. Além de abordar também soberania alimentar, bioenergia, água e agroecologia.
A terceira mesa discutirá sobre educação, especialmente educação do campo, visto que as escolas de assentamentos e demais escolas do campo capixabas têm sofrido investidas graves pela municipalização e consequente fechamento. “Vamos trazer mais elementos para as pessoas compreenderem esse momento e conheceram nosso projeto de educação”, destaca Renata Couto Moreira, professora de Economia da Ufes e integrante da direção estadual do MST/ES, pelo setor de Formação.
A programação contará ainda com apresentações de painéis sobre as temáticas enfocadas este ano. “Convidamos a todos que queiram montar seu banner e expor, para trocas de experiências”, reforça Renata.
Os tradicionais lançamentos de livros também estão garantidos, com destaque para publicações sobre reforma agrária e tecnologias sociais que dialoguem com o projeto de país defendido pelos movimentos sociais que organizam a Jura. Além do MST, também o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que propõe uma polícia alternativa de mineração para o Brasil.
No encerramento, uma programação cultural, “porque cultura também é política e muito necessária para a gente reconstruir relações para o projeto de país que queremos”, sublinha a acadêmica e militante, e uma distribuição de mudas, dentro da campanha nacional do MST de plantio de um milhão de árvores.
No Espírito Santo, explica, a campanha tem feito plantios em atos simbólico nas escolas, em áreas de assentamentos e acampamentos e em espaços coletivos, com foco em recuperação de nascentes, principalmente nos vários assentamentos e acampamentos atingidos pelo crime do rompimento da barragem da Samarco/Vale-BHP, em 2015.
Que independência é essa?
Em seu conjunto, pondera Renata, a Jura pretende abordar “as diferentes dimensões do debate sobre o projeto de país que queremos e que precisa avançar, sobretudo nesse momento de eleições e de 200 anos de independência”. Independência, aliás, que é questionada.
“É preciso questionar, porque a orientação desse desgoverno atual se volta a uma posição subordinada aos interesses imperialistas, especialmente dos Estados Unidos. Temos um presidente que bate continência para a bandeira de lá e chama isso de nacionalismo. É uma contradição. E, ao mesmo tempo, orienta toda política econômica para exportação de commodities, prejudicando a indústria nacional, que tem sofrido muitas falências e fechamentos. Já a reforma agrária está parada, as polícias sociais estão paradas. Passamos 2021 praticamente todo sem auxílio emergencial, porque foi muito reduzido o número de famílias atendidas e o valor, que baixou para R$ 400. Só agora, às vésperas das eleições, o governo inverte o discurso e surge esse pacote de benefícios sociais que é totalmente eleitoral”, aponta.
Soberania e justiça social
Na Jura, reforça, “questionamos essas orientações políticas e econômicas que nos colocam nessa condição de país periférico que serve aos interesses imperialistas, e apresentamos propostas. Temos tantas experiências que deram certo e que podem nos ajudar a projetar valores mais socialistas, para uma cultura mais fraterna, de respeito uns aos outros, de respeito à diversidade, que se contrapõem à cultura da violência e do medo”.
Projetos e alternativas que são erguidos por meio de uma “construção coletiva, feita a partir de um diálogo com o povo, de um trabalho de base em que a gente se coloca para ouvir as demandas populares. Queremos alternativas mais soberanas, com maior justiça social e ambientalmente sustentáveis”.
E o tempo de implementar esse projeto é o agora, porque a fome tem pressa. Em 2015, compara Renata, havia 3,4 milhões de pessoas com fome no Brasil. Agora, são 19 milhões! Um aumento que é em parte reflexo da pandemia de Covid-19, mas, também de “políticas públicas que prejudicam o povo”. Por isso, salienta, “as pessoas têm que conseguir compreender que o preço dos alimentos, dos combustíveis, é resultado de uma política de vinculação de preços ao mercado internacional, que impacta a vida de todo mundo”.
Para acessar a compreensão, é preciso querer ver além. “Nessa crise do capitalismo, são criados fetiches, fake news, para confundir as pessoas. Fetiche vem de feitiço. Muitas pessoas estão enfeitiçadas por essa cortina de fumaça de mentiras, para não enxergaram a realidade”.