O Festival Regenera Rio Doce reunirá, de 14 a 30 de julho, em Regência, Linhares (norte do Estado), atingidos pelo crime da Samarco/Vale-BHP vindos de diversos pontos da Bacia Hidrográfica, além de coletivos de Permacultura, Artes e Comunicação de outros estados, em uma programação diversificada.
“É um evento colaborativo, feito a muitas mãos. Na verdade, é um laboratório, de experiências que estamos vivendo no dia a dia. Um espaço de diálogo para possibilitar as contribuições de muitos atores, sejam atingidos ou de outros coletivos”, explica o sociólogo Hauley Valim, surfista e atingido em Regência, e membro da Aliança Rio Doce, coletivo responsável pela organização do Festival.
A dimensão afetiva é inusitada, sim. Ao longo de quase dois anos transcorridos do maior crime socioambiental do país, a indisposição do Estado e da empresa de atender às necessidades econômicas e sanitárias básicas dos atingidos impressiona e submete comunidades inteiras a uma situação humilhante de desestruturação social.
Diante da fome, dos despejos, do desemprego, das doenças, do consumo excessivo de álcool e drogas, da violência … soa quase supérfluo. Mas é fundamental e combate exatamente a principal estratégia utilizada pelas grandes empresas ao longo da história, que é desestruturar emocional e psicologicamente as pessoas atingidas por seus crimes socioambientais, para enfraquecer sua capacidade de luta pelos direitos.
Afeto é fundamental
“’Dividir para conquistar’. Já conhecem esse termo? É uma estratégia de guerra que todas as grandes empresas usam. Foi assim com a Manabi e está sendo assim com a Samarco. Isso é o comum: querer dividir as pessoas. Se vocês não cuidarem disso, elas vão passar por cima de vocês. Tem que estar unidos e usar suas associações como veículos de luta”, bem afirmou o procurador da República em Linhares, Paulo Henrique Camargos Trazzi, em palestra com os atingidos em Linhares em dezembro passado.
“Afeto é fundamental, é ele que impulsiona os outros processos. O afeto estabelece vínculos entre os indivíduos e indivíduos com vínculos constituem comunidades e coletivos e, assim, conseguem transformar as coisas em outra medida”, discursa o sociólogo Hauley Valim. “Conforme a gente vai se curando, vai se fortalecendo e amplia a capacidade de regeneração”, complementa.
“Vamos pensar juntos como a tradição e a ancestralidade podem ajudar a encontrar soluções e fortalecer os laços comunitários”, antecipa Hauley Valim.
Nos dias que se seguirão, até o final de julho, muitas oficinas, vivências, práticas, apresentações e ações diversas serão realizadas, com base nos nove eixos temáticos propostos: Ancestralidade; Arte, Cultura e Celebração; Comunicação e mídias livres; Direitos humanos, mulheres e luta política; Educação e ludicidade; Inovação, pesquisa e solução; Permacultura e agroecologia; Saúde, alimentação e corpo; Tecnologias sociais, cooperativas e econômicas.
Entre os participantes confirmados, estão o jornal A Sirene – mídia especializada produzida pelos atingidos em Minas Gerais –, a Comissão dos Atingidos, pesquisadores independentes de universidades capixabas, paulistas e cariocas, permacultores, artistas, agroecologistas, movimentos sociais … “Não é evento grande, mas está ancorado numa diversidade”, ressalta Hauley.
Doações
O Festival ainda está recebendo doações, por meio de financiamento colaborativo, até o dia 24. “Conforme avança em captação, ampliamos a participação dos atingidos”, convoca.
Para contribuir financeiramente com o Festival, o endereço é: http://juntos.com.vc/pt/regenerariodoce
Para acessar a programação e outros detalhes do evento, acesse: http://www.regenerariodoce.org/