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Regenerar-se para regenerar o Rio Doce

“Pra sobreviver a esse drama social que a Samarco [Vale-BHP] nos impôs, esse processo de regeneração tem que ser baseado no afeto. Alegria é muito importante, brincadeira, festividade … então é por aí que a gente acredita que vai ter condições de solucionar problemas cotidianos que estamos enfrentando”.

As palavras do sociólogo e surfista Hauley Vallim, atingido e ativista da luta pela garantia dos direitos dos impactados pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco/Vale-BHP, resumem o espírito de resistência, ação e harmonização que embalam o Festival Regenera Rio Doce, que será realizado entre os dias 14 e 30 de julho próximos, na comunidade pesqueira de Regência, na Foz do Rio Doce, em Linhares (norte do Estado).

O Festival está sendo produzido pela Aliança Rio Doce, um coletivo de pessoas que, desde o dia do rompimento da barragem – cinco de novembro de 2015 – têm se unido a (outros) atingidos para lutar pelos direitos de quem teve sua vida completamente transformada, para pior, após o maior crime socioambiental do país e um dos maiores do mundo. “Construindo e aprendendo ao mesmo tempo”, ressalta Flávia Ramos, facilitadora de tecnologias sociais e, junto com Hauley, organizadora e mobilizadora do Festival.

“Temos feito muita coisa nesse um ano e meio. E o Festival é uma forma de convergir essa nossa visão de mundo, de que a gente pode construir coisas coletivamente, a partir do que já tem disponível”, explica.

As ações da Aliança aconteceram ao longo de toda a Bacia do Rio Doce, desde Mariana (MG). Comunicação, Permacultura, Artes, Metodologias colaborativas … e, ao final de cada ciclo de atuação, os coletivos se encontravam na Foz, para “digerir” as informações e experiências. “Daí surgiu a Aliança”, narra Hauley.

A Aliança atuou na formação da maioria dos Fóruns do Rio Doce, municipais e regionais. Criou uma wikipédia, a Wiki Rio Doce, realizou ações pontuais, como a reforma da cisterna da escola de Regência, e também atuou e atua como elo entre os atingidos e coletivos de outras partes do país que querem ajudar, como o caso de um grupo de jovens que arrecadou dinheiro para comprar água para os atingidos, mas sendo o problema resolvido de outra forma, os recursos foram aplicados em projetos das comunidades, indicados pela Aliança.

Além disso, elaborou uma série de outros projetos, que concorrem em editais de financiamentos. Um deles já foi aprovado, para a construção de cinco cisternas na comunidade de Areal, também na Foz.

Uma ressalva da Aliança e do Festival é o relacionamento com a Samarco/Vale-BHP e sua Fundação Renova. “Não queremos nos relacionar com a Samarco nem com a Renova. A gente aposta na autonomia das comunidades e das pessoas. É claro que se a comunidade quiser entrar em contato com a Renova, ok, mas não vai ser a gente que vai assumir esse papel de intermediar”, conta Flávia. “É um processo de aprendizagem, não temos todas as respostas, mas confiamos muito no poder dessa força do coletivo, das pessoas”, afirma a mobilizadora. 

O Festival terá nove eixos temáticos: Ancestralidade; Arte, Cultura e Celebração; Comunicação e Mídias Livres; Direitos Humanos; Mulheres e Luta Política; Educação e Ludicidade; Inovação, Pesquisa e Solução; Permacultura e Agroecologia; Saúde, Alimentação e Corpo; Tecnologias Sociais, Cooperativas e Econômicas.

Já estão confirmados voluntários de várias partes do país, o jornal A Sirene, de Mariana/MG, e companheiros da Aliança de várias partes da Bacia do Rio Doce. Na abertura, haverá o segundo encontro de cultura ancestral em Areal, “reunindo diferentes povos para ver como, juntos, pode-se fortalecer e potencializar os processos de regeneração”, antecipa Hauley. 

Para saber mais sobre o Festival e propor uma atividade voluntária, entre no site: http://regenerariodoce.org/ 

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