Fotos: Arquivo pessoal
Mais de sessenta municípios do Espírito Santo e 14 estados brasileiros estão mobilizados para integrar um grande mutirão de plantio no próximo 21 de Setembro, Dia da Árvore. Pelo menos dez mil mudas estão sendo preparadas para distribuição aos inscritos, que envolvem pessoas físicas, ONGs e prefeituras, além de órgãos de Meio Ambiente de estados como Sergipe e Rio Grande do Norte. A grande adesão de outras unidades da federação fez até o projeto mudar de nome. Inicialmente chamado de ReplantarES, foi rebatizado como Plantio Brasil.
A iniciativa se inspira na trajetória do capixaba Nilton Broseghini, maior plantador de árvores do Espírito Santo, com mais de meio milhão de mudas já plantadas. “É um projeto de vida de mais de trinta anos”, afirma Nilton, atualmente dedicando seus dons conservacionistas à Secretaria de Agricultura de Santa Teresa, sua cidade natal.
Ao longo desse tempo, muita coisa mudou para melhor, assegura o plantador. “Antigamente tinha que adular o dono da propriedade pra plantar árvore. Hoje não corro mais atrás, senão não dou conta”, relata, divertido.
O trabalho começou em 1986. “Comecei a fazer umas mudas, plantar em frente de casa, depois fui fazendo arborização nas ruas, nas estradas”, relembra. Com a fama se espalhando, os colaboradores foram aparecendo. “Trabalhei muito com biólogos, bombeiros voluntários. Tive muita mão de obra boa”, reconhece.
Depois vieram os projetos maiores: finais de semana com apenados do sistema carcerário, escolas, hospitais, e os projetos com famílias inteiras, com grávidas, que depois ajudavam seus bebês a plantarem. “Eu produzia, catava semente, tinha o viveiro que produzia 25 mil mudas por ano”, conta.
A marca de meio milhão de árvores plantadas é resultado do trabalho em conjunto com mais de vinte mil pessoas, que foram se somando à sua incansável dedicação à missão de plantador. “A palavra mais chave é envolvimento. Envolvimento das pessoas, das instituições, de toda a sociedade”, diz.
Para todos que se aproximam com intenção de plantar, Nilton ensina: “é como cuidar de um bebê”. Tem que dar água, tirar as formigas, proteger. “Só plante se tiver condições de cuidar”, adverte o mestre. “Eu sei o que é produzir uma muda, catar semente, fazer o saquinho, adubar, germinar, esperar crescer”, descreve. “Não adianta plantar mil e não cuidar. Melhor plantar dez e dar certo”, assegura.
Nos trabalhos de restauração ambiental, os plantios são geralmente feitos em 3m x 3m, o que totaliza 1111 árvores por hectare. “Noventa por cento das árvores plantadas em Santa Teresa eu tenho o registro, as fotografias, a história toda”, conta, mencionando casos de reflorestamento completo de encostas, que trazem os serviços ecossistêmicos de volta.
Foi depois que conheceu a história e o trabalho de Nilton que o advogado Carlos Humberto de Oliveira, da Transparência Ambiental capixaba, decidiu organizar o ReplantarES. “O Nilton é a principal referência. O projeto é uma forma de multiplicar ainda mais o trabalho dele e homenageá-lo”, conta.
E inspirado no mestre, o envolvimento social se mostrou acima do esperado. “A receptividade está muito acima da expectativa”, comemora Carlos Humberto, que avisa: essa primeira chamada é um aquecimento para 2020, quando a meta é plantar 100 mil mudas.
Além dos plantadores cadastrados no formulário disponibilizado na internet, outras entidades se somaram à iniciativa: a Associação dos Engenheiros Florestais do Espírito Santo (AEFES) e o Programa Reflorestar, fundamentais para a disponibilização das mudas.
A sugestão dos organizadores é que os municípios recebam palestras sobre a importância do plantio de árvores, entre os dias 16 e 20 de setembro, que se somem à mobilização global pelo clima, no dia 20, e que realizem os plantios entre os dias 20 e 22, ao redor do 21, Dia da Árvore.
1,2 trilhão de árvores
Outra importante referência para o ReplantarES é o estudo feito por um grupo de cientistas e publicado em julho passado na revista Science, uma das mais renomadas publicações científicas do mundo.
Em entrevista à Rede BBC por ocasião do lançamento do estudo, um dos autores, o cientista britânico e ecólogo Thomas Crowther, professor do departamento de Ciências do Meio Ambiente do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, afirmou que o plantio massivo de árvores em locais subutilizados é a principal medida a ser tomada pela humanidade evitar problemas mais graves com as mudanças climáticas.
“Seguramente podemos afirmar que o reflorestamento é a solução mais poderosa se quisermos alcançar o limite de 1,5 grau [de aquecimento global]”, disse à BBC, referindo-se à preocupação central do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas, cujo relatório foi lançado ano passado: limitar o aumento do aquecimento global em 1,5 grau Celsius até 2050.
Para atingir a meta de 1,5ºC, seria necessário plantar 1,2 trilhão de árvores, prossegue a reportagem. O número é quatro vezes maior do que a totalidade de árvores que vivem na Amazônia e equivale a quase metade do total de árvores do planeta, hoje calculado em três trilhões. Se todo esse reflorestamento for feito, os níveis de carbono na atmosfera poderiam cair em 25%, retornando a padrões do início do século 20.