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Rio Itaúnas flui entre a tragédia e a esperança

Fotos: Sociedade Amigos por Itaúnas (Sapi)

Depois de circular por festivais de cinema, cineclubes e ser exibido nos municípios em que foi filmado, o documentário “Rio Itaúnas Sempre Vivo: da foz à nascente”, foi liberado para ser visualizado gratuitamente pelo site YouTube.

Produzido pela Sociedade dos Amigos por Itaúnas (Sapi) com direção de Kika Gouvea e Jefferson de Albuquerque Junior, a obra contribui para entender melhor os impactos que resultaram na fragilização do rio e sua bacia assim como as alternativas para recuperar o mais importante curso fluvial do extremo norte do Espírito Santo, abarcando oito municípios. 

A equipe foi a campo e entrevistou 32 pessoas entre ecologistas, agricultores, acadêmicos, governantes, empresários, pescadores, quilombolas, jornalistas e outras pessoas que possuem relação com o Rio Itaúnas e sua bacia. Apenas as empresas Fibria (antes Aracruz Celulose e hoje Suzano) e Alcon não atenderam ao chamado e não gravaram entrevistas. “Nossa ideia era ouvir todos envolvidos, sem julgamentos”, lamenta Kika Gouvea.

Das quase 100 horas de filmagem, o documentário extraiu 40 minutos entre depoimentos e belas imagens da natureza e cultura que habitam a região com rio, mar, mangue, praia e o que sobrou de vegetação apesar de toda degradação.

A intensiva implantação de pastagens e posteriormente de mega projetos de plantio de cana-de-açúcar e eucalipto foram destruindo a Mata Atlântica que protegia o rio, hoje assoreado e também poluído em grande parte de sua extensão por conta do despejo de lixo doméstico e industrial, uso de agrotóxicos e, para piorar, o crime da Samarco/Vale-BHP derrubando a lama de rejeitos que atinge também a região da foz do Itaúnas. Apesar de não registrado no filme, o derrame de petróleo no litoral brasileiro no fim de 2019 mostra que as ameaças continuam. 

Os sistemas de irrigação implantados e mais de 1800 barragens, também prejudicam o fluxo das águas e intensificam o drama do rio que tem grande importância cultural. 

Só em sua foz, junto à vila de Itaúnas, o rio exerce funções fundamentais, tanto na cultura alimentar por meio da pesca e coleta de peixes e crustáceos, como no lazer, no turismo para banhos ou passeios em barcos até cerimônias tradicionais como os festejos do Ticumbi que chegam em embarcações até o local.

“A gente sentia que as pessoas da comunidade diziam que o rio não era mais o mesmo, que estava secando, salinizando, que era necessário fazer algo em toda bacia”, diz Kika Gouvea. A elaboração de um documentário foi visto como uma estratégia para sensibilização e mobilização sobre o tema. “Queríamos mostrar toda a história do rio, como ele era, como está atualmente e como gostaríamos que estive no futuro, totalmente recuperado”, conta.

Para além da denúncia necessária, “Itaúnas Sempre Vivo: da foz à nascente”, busca também apontar saídas coletivas e possíveis que podem ajudar a recuperar a bacia, mostrando inclusive quem já está agindo em seus espaços e conseguindo bons resultados. “Fizemos o filme querendo que as pessoas saiam inspiradas, pensando que podemos sim fazer a diferença”, comenda a diretora.

O processo de produção até chegar ao resultado final não foi fácil, envolveu viagens e muito trabalho, mas contou com ajuda de 265 doadores numa campanha de financiamento coletivo, única fonte de recursos do projeto, além de diversos outros apoiadores que ajudaram de outras maneiras.

Agora mais acessível pela internet, o projeto ainda não se encerra. Ainda para este semestre duas novidades serão lançadas. A primeira delas é uma cartilha para ser trabalhada por professores e educadores dentro das escolas, especialmente dos municípios que pertencem à bacia do Rio Itaúnas. 

A outra é a legendagem do documentário em inglês e espanhol, para que possa circular por festivais, fóruns e congressos internacionais e também ser acessado por redes ambientalistas e outros interessados.

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