Manter o abastecimento de água às empresas industriais, com prejuízo da vazão ecológica – a quantidade mínima de água que tem de passar dos pontos de captação para uso até a foz do rio -, mata estes trechos dos rios. O governo do Estado preferiu atender à ArcelorMittal e Vale do que salvar a foz do rio Santa Maria da Vitória. O rio Jucu também não tem água doce em sua foz.
Esta é a análise que faz Adaílson Freire, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Espírito (Sindaema) e membro do Conselho Estadual e Meio Ambiente (Consema).
O sindicalista assegurou que nos próximos dias fará representação ao Ministério Público Estadual (MPE), Consema e ao Conselho Municipal de Meio Ambiente (Condema) de Vitória, à Vara dos Feitos da Fazenda Pública e à Agência Estadual de Recursos Hidricos (Agerh) exigindo ações para assegurar a vazão ecológica dos rios Santa Maria da Vitória e Jucu.
Adaílson Freire assegura que está em curso um verdadeiro desastre ecológico na foz dos rios que desembocam na Grande Vitória. Lembra que nestes ambientes muitas espécies precisam de água doce e do mar para viver. E do aproveitamento destas espécies vivem comunidades ribeirinhas, que não terão sequer o que comer, quanto mais para comercializar.
O conselheiro afirma que é preciso que no mínimo 10% da água da vazão do rio seja liberada na sua foz. No caso do rio Santa Maria da Vitória, a vazão ecológico deve ser atualmente de 280 litros por segundo (a vazão, na crise, baixou para 2.800 litros por segundo). No caso do rio Jucu, esta vazão do ponto de captação até o mar hoje deve atingir 360 litros por segundo (para uma vazão atual de 3.600 litros por segundo).
Para o conselheiro Adaílson Freire, a prioridade no abastecimento de água deve ser o consumo humano. No caso do rio Santa Maria da Vitória, a ArcelorMittal e Vale consomem um terço do que é captado pela Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), o que totaliza 79 milhões de litros por dia.
O racionamento da água já começou, embora o termo não seja adotado pelo governo. Vários bairros tiveram sua oferta reduzida. Em alguns pontos, como em Jardim da Penha, a Cesan teve de usar água do rio Jucu. Em condições normais, a água deste bairro vem do rio Santa Maria da Vitória.
Nildo Mendonça, diretor do Sindaema, afirma que a redução da oferta para a ArcelorMittal e Vale tem de ser menor, para que o abastecimento para os moradores não seja tão reduzido. Defende que estas empresas devem ser abastecidas com água retiradas das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs).
Nas atuais condições climáticas, os rios Jucu e Santa Maria estão em níveis críticos. Mas a previsão dos técnicos é de que até 2020, no máximo 2025, haverá total esgotamento da disponibilidade hídrica destes rios.