A Samarco e suas controladoras Vale e a anglo-australiana BHP Billiton foram denunciadas nesta segunda-feira (8) no exterior devido ao maior crime socioambiental do Brasil. Há mais de três meses do rompimento da barragem de rejeitos da mineração em Mariana (MG), as empresas até hoje estão impunes. Os danos afetam mais de um milhão de pessoas da bacia do rio Doce, contaminado pela lama, assim como o litoral capixaba.
A denúncia ao exterior foi feita pelo Frei Rodrigo Peret, da Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade (Afres), durante o evento Alternative Mining Indaba, realizado até esta quarta-feira (10), na cidade do Cabo, África do Sul.
Segundo o Comitê em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, o objetivo do encontro é consolidar uma plataforma para comunidades afetadas e impactadas pelas indústrias extrativistas na sua luta por direitos; estabelecer interloução com governos, entidades e setor privado; e criar uma lógica do processo de tomada de decisão para as comunidades, advogando por apenas políticas nacionais e não regionais e empresariais.
Desde o dia do rompimento da barragem, em cinco de novembro do ano passado, representantes da sociedade civil organizada fazem alertas e denúncias sobre as violações de direitos humanos decorrentes do maior desastre da história da mineração no País.
Em recente relatório divulgado pela Justiça Global, com o título “Vale de Lama”, entidades apontam que as empresas têm falhado em fornecer respostas rápidas e efetivas nas questões que envolvem o direito à vida, à água, à moradia, ao trabalho, à saúde e ao meio ambiente. São também relatadas situações de hostilidade e criminalização de defensores e defensoras de direitos humanos e movimentos sociais.
O documento alerta ainda para as estratégias de desresponsabilização adotadas pelas empresas acionistas. “Vale e BHP Billiton, duas das três maiores mineradoras do mundo, ocultam-se sob o manto de outra personalidade jurídica (a Samarco Mineração) para não assumir suas obrigações”.
Os impactos do crime já foram denunciados, também, à Organização das Nações Unidas (ONU).
Análises
Nessa sexta-feira (5), mais um estudo, desta vez divulgado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), indicou a alta concentração de metais na água do rio Doce, o aumento no número de nutrientes e a diminuição do número de espécies de algas.
Esses são os primeiros resultados de 2.785 análises feitas por uma equipe formada por mais de 70 pesquisadores, desde 13 de novembro de 2015.
“Nunca tínhamos registrado esses níveis de turbidez na água do mar com mais de 20 metros de profundidade. As amostras revelaram uma turbidez muito elevada para níveis com 30 metros de profundidade. Além disso identificamos um percentual muito alto de coloide, em torno de 2% da amostra. O coloide é uma espécie de pó muito fino que não se deposita no fundo do mar e pode ser muito prejudicial ao meio ambiente. Ele pode ser ingerido ou mesmo servir de veículo de transporte para um vírus, por exemplo”, afirmou Alex Bastos, professor do Departamento de Oceanografia da Ufes.
As pesquisas também mostram que o mineral mais encontrado na argila analisada foi o silicato de zinco e o silicato de alumínio e que a concentração na água de alguns metais – principalmente ferro, alumínio, cromo e manganês -, chegaram 100 vezes maior que o normal.
Outro problema detectado está no aumento da vazão do rio. Segundo Renato Rodrigues Neto, diretor do Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN), a vazão do rio, que na época da tragédia estava em 300 m³ por segundo, hoje está perto de 4.000 m³ por segundo, o que aumenta muito o volume de lama que é despejada no mar.
Além disso, foi encontrado, no mar, um animal conhecido como “minhoca do mar”, coberto de lama.
A maioria das análises dos resultados divulgados foram obtidos entre os dias 27 de novembro e 2 de dezembro de 2015, quando os pesquisadores estiveram a bordo do Navio Hidroceanográfico de Pesquisa Vital de Oliveira Moura, da Marinha do Brasil, e coletaram amostras em 15 pontos do oceano Atlântico, desde a foz do rio Doce até alcançar uma profundidade de 30 metros. Foram realizadas análises de metais, turbidez, temperatura, salinidade e oxigênio.