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Seguranças da Petrobras vigiam sem terras 24 horas por dia em Palhal

Uma comunidade inteira expulsa de suas casas em nome de um projeto que já foi cancelado pelo próprio empreendedor. E, mesmo sem qualquer projeto definido, as famílias que ocupam o local, reivindicando o direito constitucional à Reforma Agrária, são seguidamente expulsas e até criminalizadas pela Justiça Estadual.

O contexto se refere a cerca de 40 famílias de trabalhadores rurais sem terra que ocupam uma área de 415 hectares pertencente ao governo estadual. Tratam-se de terras devolutas e improdutivas que já foram arrendadas pela Petrobras.

O contrato de arrendamento venceu no dia 17 de maio e, até agora, nem os acampados e nem mesmo a Defensoria Pública do Espírito Santo (DPE-ES), que os acompanha, conseguiu resposta na Procuradoria Geral do Estado (PGE) sobre a renovação ou não do contrato de arrendamento.

Por ora, o que o Estado alega, segundo ofício enviado à Defensoria, é que “O Governo tem procurado atrair investimentos que dinamizem a economia e contribuam com a geração de emprego e renda”. “O Estado está procurando dar uma utilidade econômica à área, mas não está conseguindo”, avalia o defensor público estadual Vinicius Lamego de Paula, do Núcleo de Defesa Agrária e Moradia.

O advogado explica que o trabalho da Defensoria Pública, nesses casos de reintegração de posse contra sem terras e outros movimentos sociais do campo busca, essencialmente, sensibilizar os juízes sobre o direito constitucional à Reforma Agrária, incluindo um bom histórico sobre a incorporação da Reforma Agrária à Constituição de 1988 (Artigo 184). “Não é muito aceito. Os juízes geralmente defendem a propriedade da terra”, afirma.

Os processos geralmente emperram na inoperância do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que, mesmo sendo formalmente solicitado, não realiza os estudos sobre produtividade das terras reivindicadas, o que dá margem para que os juízes optem por respaldar o argumento dos supostos proprietários e decidam pela expulsão dos acampados.

“A Reforma Agrária está relacionada ao direito à vida. Direito à moradia, ao alimento, ao trabalho e à vida. Não é só um pleito do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], mas da população em geral, porque envolve a segurança alimentar. O agronegócio produz exportação, não é para alimentar a população”, argumenta Vinícius.

Preconceito e criminalização

É a própria população, no entanto,  como observa o defensor, quem se soma à força opressora contra o MST e outros coletivos de luta pela democratização do acesso à terra. “Juízes e população em geral que têm preconceito contra os movimentos sociais acham que são criminosos”, lamenta.

A situação é ligeiramente diferente em estados que possuem Varas Agrárias, onde os juízes têm um conhecimento maior e são mais sensíveis à causa. “No Espírito Santo não há essa especialização”, reclama.

O caso de Palhal tramita na Justiça Estadual em Linhares sob o número 0005806-05.2015.8.08.0030. O próximo passo da Defensoria no processo é entrar com um agravo de instrumento contra a criminalização do MST, pois o juiz, além de determinar, em liminar, a reintegração de posse, também cassou os benefícios sociais dos acampados e determinou multa de R$ 1.000,00 por pessoa, em caso de “crime de desobediência”. “Essas sanções são uma forma de criminalizar”, explica o defensor público.

“O oficial de Justiça [que foi ao acampamento entregar a liminar de reintegração de posse] disse que a gente está confrontando o juiz. Eu sei que é uma pressão psicológica pra gente sair correndo”, relata Edineia Rosa Neves, liderança do MST no Acampamento em Palhal, batizado de Paulo Damião, em homenagem a um frei que morreu na luta pela Reforma Agrária.

É a terceira reintegração de posse expedida contra os sem terra em Palhal e chegou um dia depois das famílias se instalarem no local, às 5h30. Nessas idas e vindas, pesa na memória dos camponeses a destruição de suas lavouras. “O pessoal já tava até vendendo pra feira!”, conta Edineia.

Há também quem tenha processado a Petrobras, como o “Seu Tião”, segundo conta Edineia, que recebeu ordem de despejo, acusado de ter vendido e recebido dinheiro da Petrobras. “Mas ele não vendeu nem recebeu pela sua terra”, contesta a líder sem terra. “É igual àquela história do coffe break, você vem, eles fazem o café da manhã, você assina uma lista de presença…foi isso que aconteceu, eu acho”. 

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