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Sindipúblicos denuncia interferência ilegal da Seama em licenciamento do Hospital Geral de Cariacica

“Há claros indícios de ilegalidade e nós vamos levar essas informações ao Ministério Público Estadual”, afirmou o diretor de Assuntos Jurídicos do Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Espírito Santo (Sindipúblicos), Amarildo Santos, em referência ao processo nº 72965606, que trata do licenciamento da construção do Hospital Geral de Cariacica, uma das obras prioritárias do governo Paulo Hartung.

Nas páginas 95 a 103 do processo, consta um parecer do titular da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), Aladim Cerqueira, em que ele contrapõe o posicionamento técnico dos analistas do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), uma atitude apontada como ilegal e que deixa claro sua tentativa de interferência política sobre o licenciamento ambiental em curso.

Em seus pareceres, os técnicos do Iema apontam a existência de nascentes e cursos d'água na área pretendida para a construção do Hospital, caracterizando uma Área de Preservação Permanente (APP), portanto, inapta para a obra. Essa avaliação técnica consta no Plano de Controle Ambiental (PCA) elaborado pela Urbiplan, empresa contratada para tal e que insere, no documento, a condicionante 11, de recuperação da APP em questão.

Para o secretário, no entanto, é válido um laudo emitido pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) e de um professor independente, Antônio Sérgio Mendonça, que concluíram pela inexistência de APP.

Em seu despacho, Aladim afirma: “Essa é também a nossa conclusão. Resta apenas a dúvida sobre a citação no PCA de coleta de água em curso d'´água nos pontos A1 e A2, que conforme postado em imagem georreferenciada, estariam sendo retiradas de um corpo hídrico na área do hospital. Porém, o PCA não traz maiores informações sobre a data da coleta, nem da característica desses corpos hídricos. Assim, para esclarecimento efetivo e saneamento definitivo das dúvidas no processo sobre a existência ou não de curso d'água, sugerimos oficiar a empresa que elaborou o PCA sobre as coletas acima informadas, que contradizem em princípio as nossas observações e conclusões, bem como os pareceres do Idaf e do Professor Antônio Sérgio”.

Diretor técnico também ignora seu próprio corpo técnico

No dia cinco de outubro de 2016, dois dias após a emissão do parecer do titular da Seama, o então diretor técnico do próprio Iema, Albertone Sant´Ana Pereira, encaminhou um despacho à Gerência de Controle Ambiental (GCA), em que também faz referência ao laudo do Idaf citado por Aladim, para dizer que “percebe-se claramente a ausência de vocação à preservação apresentada pelo terreno e pelos elementos ambientais nele dispostos”.

Albertone se utiliza, em seguida, de argumentos extra-ambientais para sustentar sua decisão: “Cabe ressaltar a contribuição social que trará o HGC, que contará com 280 leitos censáveis e outros 120 não censáveis, além de UTI, centro cirúrgico e obstetrício, enfermaria entre outros serviços a serem ofertados a uma população carente de serviços públicos de saúde de qualidade. Entendo que esse conjunto de fatos embasou o posicionamento favorável à emissão da Licença, expresso pela Diretora Presidente deste Iema disponível à fl 94 (verso), ao qual, (por esses motivos) comungo por meio do presente despacho”.  

E finaliza afirmando ser “desnecessária a aplicação da condicionante 11 [do PCA], que trata de compensação por intervenção em APP”.

Parecer de Aladim é ilegal 

A emissão de um parecer por parte do secretário é apontada como ilegal. “Não cabe ao secretário se manifestar em processos que tratam de concessão de licença, não importando se o solicitante é o poder público ou particular”, explica Amarildo. “E o que mais nos assusta é que o Aladim é servidor de carreira, conhece a legislação”, destaca.

O diretor jurídico do Sindipúblicos esclarece que, quando o requerente no licenciamento, nesse caso o governo do Estado, não fica satisfeito ou não concorda com o parecer técnico do Iema, ele deve entrar com recursos dentro do Iema, nos termos da lei, e não intervir diretamente via o secretário estadual, de forma ilegal e autoritária, como aconteceu.

Amarildo salienta que esse é mais um exemplo dos perigos de ataque à legislação e ao interesse público que podem advir da transformação do Iema, que hoje é uma autarquia independente, em duas subsecretarias da Seama. “Vai haver interferência política direta nos procedimentos administrativos”, alerta o sindicalista, anunciando que o MPES deve investigar quem “deu causa” a essa situação protagonizada pelo secretário. “Esse caso não começa nem termina aqui”, diz. 

População pediu hospital em outra área 

Além da fragilidade ambiental, a área pretendida pelo governador Paulo Hartung – e pelo prefeito Juninho (PPS), de Cariacica, reeleito em 2016 – não é a preferida pela população, que apontou como mais indicada, devido ao acesso de ônibus a partir de vários pontos da cidade, o terreno da antiga fábrica têxtil Braspérola, às margens da BR-262, próximo ao limite com o município de Viana.

Em matéria publicada no dia 25 de junho de 2015 neste Século Diário, o coordenador da Federação das Associações de Moradores e Movimentos Populares do Espírito Santo (Famopes), Dauri Correia da Silva, disse ainda que uma segunda opção, elencada pela população local, seria na Fazenda Gaburros, já desapropriada.

A área cobiçada pelo governador e o prefeito, no entanto, já sofre especulação imobiliária e as grandes empresas do setor têm grande interesse nos investimentos públicos em estradas na região, que seriam realizados com a vinda do Hospital, cujas obras têm previsão de término para 2019.

 

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