Uma forma pacífica e barulhenta de demonstrar indignação e cobrar soluções para a destruição ambiental e social provocadas pelo rompimento da barragem de rejeitos da Samarco/Vale-BHP em Mariana (MG). A segunda Carreata contra a lama e pela paz, novamente organizada pelo coletivo de surfistas capixabas, sairá da Praça do Papa às 19h da próxima segunda-feira (14) e seguirá, em buzinaço, até a portaria principal da Vale.
Desta vez, a motivação é a suspensão do processo criminal contra os diretores e funcionários da Samarco, anunciada pelo juiz federal Jacques de Queiroz Ferreira, da comarca de Ponte Nova (MG). “Não sei o que deu na cabeça desse juiz. Ele tem que ter um mínimo de bom senso. Se algumas provas da acusação forem invalidadas, que seja aberto um novo processo, mas a impunidade é inaceitável!”, brada o diretor cinematográfico e produtor cultural José Augusto Muleta, um dos surfistas do coletivo a organizar o evento.
Muleta, nacionalmente conhecido pela estreia de seu longa-metragem
A Onda da Vida, ficção que relata as belezas naturais e a cultura de Regência, como uma das principais praias para surf do país, destaca o caráter pacífico da manifestação. “Não vamos depredar nem agredir nada nem ninguém. Nossas pranchas são nossa bandeira e as redes sociais nosso front de batalha”, afirma. “É um evento pra família”, diz, lembrando que podem participar do ato surfistas e não surfistas, e pessoas de todas as idades.
Além de Vitória, a intenção é envolver também a cidade de Linhares, realizando uma carreata similar no mesmo dia e horário. E, em seguida, outros protestos. “Nosso intuito agora é uma série de manifestações: remadas, protestos na Assembleia Legislativa ou no Palácio Anchieta. A população precisa se manifestar”, convoca o cineasta, para quem essa suspensão – temporária ou definitiva, ainda não se sabe – do processo criminal é só mais um dos absurdos que assombram o caso Samarco/Vale-BHP.
O primeiro, opina, é o fato de ninguém ter sido preso. E outros absurdos se somam, como o estado de abandono das comunidades atingidas e a promessa de investimento de R$ 20 bilhões ao longo da calha do Rio Doce. “Isso é faz de conta. Não existe horizonte de voltar a pesca na região e não vemos as pessoas sendo preparadas, os jovens, pra outras atividades econômicas”, critica.
Um exemplo do “faz de conta”, ressalta, é a ausência de uma Estação de Tratamento de Água na vila de Regência até hoje. “A empresa não cuida das pessoas e a Fundação Renova é uma mentira. Não existe relação verdadeira com as pessoas. Só no papel e na demagogia”, acusa Muleta, ressaltando o descaso com o surf, importante gerador de renda na vila. “A figura do surfista é totalmente ignorada. Jogaram lama na minha cara”, dispara. “A Samarco matou um dos maiores rios do mundo e está impune. Um absurdo!”, protesta.
Muleta diz reconhecer a importância das mineradoras, pela geração de emprego, mas não aceita os “gestores incompetentes”. “Foi ingerência, ignorância! Uma barragem não se rompe assim de uma hora pra outra. Foi um crime, pra mim equivalente a dirigir um carro bêbado”.
O cineasta lamenta que um possível A Onda da Vida 2 não é um filme para ele fazer. “É um filme pro Rodrigo Aragão”, ironiza, citando o colega de Guarapari, um dos maiores diretores de filmes de terror do país.
Serviço
Segunda Carreata contra a lama e pela paz
Saída: 14 de agosto (segunda-feira), às 19h, na Praça do Papa.
Trajeto: Buzinaço até a entrada da Vale, com retorno em frente à portaria principal da mineradora.