Os grandes empreendimentos planejados para os arredores do território indígena demarcado em Aracruz (norte do Estado) desafiam até mesmo a Fundação Nacional do Índio (Funai) que, em todo o país, não encontra situação semelhante para licenciamentos e avaliação que contemple esses territórios tradicionais. O relato é do chefe da coordenação técnica local da Funai, Vilson Tupinikim.
Por isso, os índios de Aracruz criarão um fórum para discutir a sustentabilidade nas aldeias, tanto no desenvolvimento de projetos internos como para avaliação dos empreendimentos que objetivam se instalar nos arredores do território. Além de definir ações e métodos avaliativos para o licenciamento dos empreendimentos que visam às áreas próximas às aldeias, os índios também definirão estratégias para desenvolver suas tradições em pesca e agricultura.
Como explica Vilson, no fórum serão reunidos os estudos e ações mitigadoras possíveis para a avaliação dos empreendimentos pela comunidade indígena, cuja participação será imprescindível. O fórum será formado, essencialmente, pela comissão de caciques e por demais lideranças indígenas, mas sempre com debate ampliado por toda a comunidade.
O primeiro debate sobre a criação do fórum aconteceu nas últimas quinta (16) e sexta-feira (17), durante o “I Seminário de Sustentabilidade dos Povos Indígenas Tupiniquim e Guarani”, que teve como tema “Pesca: Cultura e Meio Ambiente”. De acordo com Vilson Tupinikim, mais dois encontros deverão ser realizados para debates entre a comunidade antes da criação efetiva do fórum.
Somente em Aracruz, diversos empreendimentos ameaçam o equilíbrio ambiental e cultural de comunidades tradicionais como os indígenas, quilombolas, pequenos agricultores e pescadores. Entre eles os plantios de eucalipto da Aracruz Celulose (Fibria), que usurpou territórios tradicionais e lança químicos agrícolas sobre o solo, além de explorar à exaustão os recursos hídricos, esgotando a possibilidade de cultivos puros e saudáveis por essas comunidades. Há, também, as constantes ameaças portuárias, como o Portocel, da Aracruz, além do Estaleiro Jurong, que usurpou e degradou uma enorme área de pesca em Barra do Riacho, e o planejado porto Imetame, que acabará de vez com o território de pesca artesanal do vilarejo.