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Suzano investirá mais de R$ 500 milhões na expansão do deserto verde no Estado

Foi em evento no Palácio Anchieta, com presença do governador Renato Casagrande (PSB), que a Suzano (ex-Fibria e ex-Aracruz Celulose) anunciou o projeto de construção de uma nova fábrica no Espírito Santo, desta vez em Cachoeiro de Itapemirim,sul do Estado, além da modernização da planta de Aracruz e expansão do monocultivo de eucalipto para abastecer as indústrias.

Segundo o anúncio, o montante total de investimentos da empresa no Estado será de R$ 930 milhões, sendo a maior parte, R$ 531 milhões, para “expansão da base florestal com o plantio de novas florestas no Estado, por meio de aquisição ou arredamento de áreas rurais, plantios, conduções e tratos culturais”, como aponta o governo.

Para agricultores e ambientalistas, o termo “florestas plantadas” é o eufemismo que as empresas de papel e celulose usam para o monocultivo de árvores ou “deserto verde”, com intuito de corte o mais rápido possível para alimentar suas indústrias, gerando grande impacto social e ambiental. No ano passado, uma medida judicial chegou a proibir novos plantios de eucalipto no município de Montanha, extremo norte do Estado.

Daniela Meireles, da Federação de Órgãos de Assistência Social e Educacional (Fase), aponta a questão da água como um dos principais impactos do monocultivo de eucalipto e da indústria de celulose. Além do alto consumo dos lençóis freáticos pelas plantações, a nova fábrica também demandará grande quantidade de água para seu processo industrial, justamente no sul do Estado, região que guarda maior parte dos recursos hídricos do Espírito Santo.

“É contraditório e incoerente o anúncio de investimentos no monocultivo de eucalipto enquanto se discute um plano de estadual de agroecologia, são coisas antagônicas”, diz Leomar Lírio, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

O uso de agrotóxicos nos plantios também é um problema que contribui para a contaminação das águas no Espírito Santo. “De dois anos pra cá, houve ação do Estado para cima dos pequenos agricultores, proibindo irrigação das lavouras, com várias bombas sendo lacradas porque estava faltando água para grande Vitória. Agora, pouco tempo depois, é anunciado um investimento que vai precisar de muita água”, aponta, evidenciando a contradição.

Leomar entende que o projeto segue a tendência do que vem acontecendo em todo país, com a atuação do grande capital ocupando espaços a partir da retirada dos investimentos do poder público.

Daniela Meireles considera que o plantio massivo de eucalipto também tem contribuído para queda da biodiversidade, perda da autonomia sobre a produção de alimentos, concentração fundiária, esvaziamento do campo e enfraquecimentos das comunidades e culturas tradicionais. Ela também aponta contradição entre o apoio governamental a um projeto deste tipo, enquanto tenta propagandear suas ações para tentar mitigar os efeitos da seca no Estado, e reclama que pese os grandes impactos socioambientais da nova fábrica e expansão do plantio, nada disso foi discutido de forma mais ampla e em diálogo com a sociedade civil.

“Vai ter EIA-Rima [Estudo e Relatório de Impacto Ambiental ]pra isso? Primeiro eles decidem e depois fazem licenciamento ambiental para legitimar”, questiona Daniela sobre o conluio entre poder político e econômico, que geralmente consegue impor qualquer projeto, mesmo se apontados os grandes impactos. 

A falta de debates públicos gera também desconfianças entre lideranças da sociedade civil. Se a expansão do monocultivo, como se pode sugerir, for para o sul capixaba, qual impacto pode ter para o berço das águas capixabas, em regiões como o Caparaó? E se for para o norte, que tem  80% do território já tomado pelo eucalipto. como pode aprofundar ainda mais o processo de desertificação?

Embora a empresa anuncie que o objetivo seja abastecer o mercado interno, o posicionamento estratégico em Cachoeiro de Itapemirim pode também ter relação com a expectativa de expansão portuária no litoral sul? A localização exata do novo empreendimento ainda não foi definida, terá impacto sobre a zona urbana, sobre comunidades tradicionais rurais? São questões não colocadas na mesa por empresa nem governo para que a sociedade civil capixaba possa discutir e opinar.

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