Com 66% do seu território coberto por pastagens, a maioria degradadas, Montanha tem, numa visão mais arcaica de uso e ocupação do solo, um enorme potencial para expansão da monocultura de eucalipto pelas multinacionais Suzano e Aracruz Celulose (Fibria). “É um erro. Está sendo feito para atender a interesses das multinacionais da área de celulose e o governo do estado se submete a isso”, revolta-se Valmir Noventa, liderança estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Uma visão mais realista e moderna sobre a problemática da água e do clima, no entanto, aponta para o reflorestamento verdadeiro, com diversificadas espécies nativas de Mata Atlântica. Monoculturas de eucalipto ou qualquer outra árvore não são florestas. Florestas, especialmente as tropicais, são ecossistemas muito mais complexos e tão mais resilientes quanto mais biodiversos.
Mas, por enquanto, é o modo anacrônico de desenvolvimento que predomina em todo o norte e noroeste do Estado. E a maldita profecia – ou vocação, como dizem os grandes empresários e políticos que movem o deserto verde e a concentração de terra – continua.
Em 2014, quando se iniciaram os processos de licenciamentos dos quatro blocos de plantios da Suzano, o município já estava perto do limite legal, de ter no máximo 15% do seu território coberto com a monocultura de eucaliptos. Um projeto de lei para aumentar esse limite para 25% foi barrado pelos movimentos sociais locais e não chegou a ser votado na Câmara.
Enquanto o governo estadual reflorestou parcos seis mil hectares através de seu Programa Reflorestar, o município de Montanha tem 6,2 mil hectares de plantios de eucalipto somente da Suzano em processo de licenciamento ambiental em franco avanço.
O fato de 10% das solicitações ao Programa Reflorestar serem oriundas de Montanha é um indicativo do reconhecimento, por parte da prefeitura e do governo estadual, da urgência em reflorestar o município. Mas, em números absolutos, a monocultura ainda ganha de goleada da floresta e da produção de água e clima saudável. O déficit municipal de água, nos últimos três anos, já acumula 2.400 ml.
E se o Estado não tem políticas para enfrentar o problema, rebate Valmir, “os pequenos agricultores vem fazendo como podem”, citando os cercamentos de Áreas de Preservação Permanente (APPs) feitos pelos pequenos agricultores. Mas os plantios necessitam de insumos que a agricultura familiar no norte capixaba simplesmente não tem condições de custear, em vista do endividamento das famílias, que perderam de 70% a 90% de sua produção e passam por dificuldades até para colocar o alimento na própria mesa.
“Não temos percebido nenhuma vontade política de dialogar com os movimentos nem o governador nem propostas reais de reduzir a crise hídrica”, critica Valmir. Exemplo disso é que a pauta da agricultura familiar está há um ano na mão do governador Paulo Hartung e de seus secretários, mas até agora nada de efetivo foi feito.
Valmir é uma das lideranças camponesas a representar o Espírito Santo no Seminário Nacional das Mudanças Climáticas, realizado nesta semana na Cáritas de Brasília, com organização do Fórum Nacional de Mudanças Climáticas e Justiça Social.
Nesse e em outros espaços de discussão sobre a temática, a solução para o aquecimento global e a crise hídrica não irão brotar de ações tão conservadoras como substituir monoculturas de pastagens por monoculturas de eucaliptos ou construir barragens sobre rios agonizantes – só Montanha ergueu, na gestão atual, mais de 130 barragens –, mas sim do plantio de florestas verdadeiras e do apoio real à agricultura familiar e camponesa.