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Tamar registra frequência incomum de tartarugas de couro no norte

Nas temporadas 2012-2013 e 2013-2014 da desova das tartarugas de couro (Dermochelys coriacea), ou tartaruga-gigante, no litoral norte do Espírito Santo, o Projeto Tamar registrou flagrante de 29 e 30 tartarugas, respectivamente, que usaram o local para se reproduzir.

Destas, 15 fêmeas diferentes tiveram sua primeira marcação nesta última temporada, e ainda há a expectativa de que esse número aumente neste ano, já que a temporada 2013-2014 só termina em fevereiro. Cerca de 240 filhotes de tartaruga-gigante já foram devolvidos ao mar nesta temporada.

Anteriormente, a expectativa anual era de que apenas entre 4 e 12 indivíduos da espécie, avaliada como criticamente em perigo de extinção, frequentassem a área para a desova. A área de 150 quilômetros de planície costeira, localizada entre as regiões de Regência, em Linhares, e Itaúnas, em Conceição da Barra, é a única área de desova regular em todo o litoral brasileiro. Nos 15 km da Reserva Biológica (Rebio) de Comboios houve a ocorrência de 25% dos ninhos, o que indica que a proteção da região como um todo, e não restrita à Rebio, é essencial à manutenção da espécie. Os principais pontos de desova do animal são em Regência, Povoação e Pontal do Ipiranga, todos localizados no município de Linhares.

Outros 10 registros reprodutivos de tartarugas-gigantes foram registrados pela equipe do Tamar da Grande Vitória, em praias urbanizadas e não monitoradas .

Além disso, nos últimos três anos há um aumento na frequência das tartarugas-gigante de menor porte que procuraram a região para desova. Segundo Joca Thome, Coordenador Nacional do Projeto Tamar, indica que essas tartarugas de menor porte são os indivíduos mais jovens, que estão começando a entrar na idade adulta e a se reproduzir, entrando na fase chamada tecnicamente de recrutamento. O coordenador considera que essa estatística é extremamente positiva, uma vez que, antes, apenas as tartarugas mais velhas desovavam na região.

O número anual de ninhos na região também aumentou. Entre os anos de 1988 e 1999, a média anual de ninhos foi de 24,5, enquanto entre os anos de 2000 e 2013 esse número mais do que dobrou, alcançando a média de 59,5. No gráfico que mede a quantidade de ninhos de desova anual, há oscilações entre os anos, para mais e para menos. Joca explica que essa oscilação acontece porque nem sempre as mesmas tartarugas voltam para desovar. Uma mesma fêmea pode ficar até dois anos sem voltar para desova na costa. 

 

Joca explica que, quando havia a caça e o consumo dos ovos de tartarugas na região, não havia a frequência de indivíduos mais jovens que se nota atualmente. Agora, a volta desses animais, bem como o aumento de sua frequência, representa um sucesso do trabalho de proteção às tartarugas-gigante desenvolvido há mais de 30 anos pelo Projeto Tamar no Estado.

Ameaça

Entretanto, todo esse trabalho pode ir abaixo se os projetos portuários da Nutripetro e do Porto Manabi, previstos justamente para a área de desova das tartarugas, forem construídos na região. A audiência pública do Porto Manabi, projetado com foco no transporte do minério, será no próximo dia 31. Estes são apenas dois dos trinta projetos do mesmo tipo que têm sua instalação prevista para o litoral do Estado nos próximos anos. Muitos deles, afastados dos grandes centros urbanos, provocarão e já provoca intensa degradação em ambientes de rica biodiversidade, beleza cênica e importância biológica.

Joca aponta que, além dos portos prejudicarem a desova e, consequentemente, a manutenção da espécie, também haverá a exclusão de outros animais, como as baleias e os pequenos peixes e outros animais apreciados na culinária que, atualmente, são fonte de sustento de pescadores da região. Alterando o habitat natural e prejudicando a locomoção das tartarugas até a área, a construção desses megaempreendimentos podem pôr fim ao longo trabalho do projeto, que apenas começou a dar bons resultados.

 A ocupação desordenada do litoral traz malefícios às populações de tartarugas como o aumento do tráfego marinho, a mudança na dinâmica das praias e a iluminação artificial. O Projeto Tamar considera que as áreas de fundeios construídas nos portos geram extensas áreas de exclusão de pesca, limitando mais ainda os pescadores a poucas áreas, próximos aos estuários e reservas.

Uma proposta da comunidade de pescadores, aliás, é que seja criada uma reserva de desenvolvimento sustentável biológico e social que protege grande parte da área de desova das tartarugas e, ainda, ocupa a área em que o Porto de Manabi foi planejado. A área total tem cerca de 43 hectares que engloba áreas terrestres e marinha.

 

Atualmente, a principal ameaça é relativa às pescarias costeira e oceânica, que motiva o monitoramento diário das redes de emalhe de superfície e fundo desenvolvido desde o início da temporada, em setembro de 2013, na Foz do Rio Doce. As pescarias já causaram a morte de quatro adultos na região, somente nesta temporada, dos quais dois apresentavam sinais de  interação com a pesca e rachaduras no crânio, possivelmente causadas por traumas devido a pancadas. Outras quatro  foram salvas das redes costeiras pela equipe de monitoramento, que atua com o auxílio do barco Maratimba, com parceria da Prefeitura Municipal de Linhares e apoio dos pescadores profissionais da região.

O Projeto Tamar está desenvolvendo, atualmente, experimentos para verificar as desorientações sofridas pelos filhotes das principais praias de desova do Estado, sobretudo para que se tenha uma noção do comportamento da espécie com a instalação dos megaempreendimentos portuários. A temperatura da areia da praia de Comboios, principal local de desova dessa espécie no Brasil, bem como a temperatura interior dos ninhos, estão sendo medidas, um cuidado para com a espécie diante do aquecimento global. Também vem sendo desenvolvido nos últimos anos um estudo da análise da diversidade genética da população que desova no Estado.

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