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Tartarugas-gigantes capixabas são monitoradas via satélite

Cabocla, Botocuda, Brenda e Fubica são os nomes de quatro fêmeas de tartarugas marinhas da espécie Dermochelys coriacea, conhecida popularmente como tartaruga-gigante, mole ou de-couro, que receberam transmissores para rastreamento via satélite e terão suas rotas migratórias monitoradas, como parte de uma pesquisa de doutorado desenvolvida em parceria com o Projeto Tamar. Um dos objetivos é descobrir possíveis áreas de alimentação dessas tartarugas, gerando mais dados que favoreçam sua conservação.

 

A gigante pode chegar a pesar 700 quilos e é a espécie mais ameaçada do país, dentre as cinco que se alimentam e se reproduzem no litoral brasileiro. A região da Foz do Rio Doce, em Linhares, é o principal sítio reprodutivo da gigante no Brasil e foi na área de Povoação a Pontal do Ipiranga, incluindo as praias protegidas pela Reserva Biológica de Comboios, próximo à vila de Regência, que as fêmeas receberam os aparelhos de telemetria, após desovarem, entre os dias 10 e 14 de novembro últimos.

Os transmissores foram adquiridos com recursos do Projeto Áreas Marinhas e Costeiras Protegidas – GEF-Mar-MMA e devem revelar informações sobre rota percorrida, onde as tartarugas costumam ficar mais tempo, profundidades e tempo de mergulhos, temperatura da água, entre outras informações.

Ao subirem à praia para desovar, e receberem os transmissores, elas foram sequencialmente ‘batizadas’ de Cabocla, Botocuda, Brenda e Fubica. No dia 10 de novembro, a primeira fêmea, Cabocla, foi flagrada pela equipe de pesquisadores, estagiários e agentes locais. Após algumas noites sem verem mais nenhuma, na noite do dia 14, foi vista a segunda fêmea, que apresentava cortes e marcas de rede de pesca nas nadadeiras dianteiras. O nome  – Botocuda – foi dado em homenagem aos índios que ocupavam a região do Rio Doce. 

Intitulada Ecologia e conservação das tartarugas-de-couro no Brasil, a pesquisa é coordenada pela bióloga brasileira e doutoranda pela Universidade de Exeter, na Inglaterra, Liliana Poggio Colman. O doutorado conta com financiamento do Programa Ciência sem Fronteiras, do governo federal, e é executado sob orientação do Professor Brendan Godley, da mesma universidade, e um dos cientistas mais reconhecidos pelo uso da telemetria por satélite relacionada à ecologia migratória das tartarugas marinhas. A pesquisa conta ainda com apoio da The Rufford Foundation e British Chelonia Group.

Este estudo vem sendo desenvolvido desde 2015 e abrangeu as Temporadas Reprodutivas 2015-2016, 2016-2017 e 2017-2018. Já envolveu a marcação de 25 fêmeas diferentes de tartaruga-de-couro, acompanhamento dos ovos até o nascimento dos filhotes, instalação de termômetros nos ninhos para monitorar a temperatura durante a incubação, além da coleta de amostras de tecido e ovos com posterior análise de isótopos estáveis, que podem indicar por onde elas passaram. Mas foi somente nessa última temporada, que foi possível a instalação dos transmissores.

 
Plano de Ação Nacional para Conservação

“Das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, a tartaruga-de-couro é a mais ameaçada, seja pelo pequeno número de indivíduos por ano, seja pela distribuição restrita ao Estado, população geneticamente distinta de todas as demais do oceano Atlântico. A compreensão do uso do ambiente marinho pelas tartarugas é apontada como linha de pesquisa prioritária no Plano de Ação Nacional para Conservação (PAN) das Tartarugas Marinhas”, destaca a analista ambiental e médica veterinária do Centro Tamar/ICMBio, Cecília Baptistotte.

Para a bióloga e pesquisadora Liliana Poggio Colman, a expectativa é de que a telemetria, em associação com a análise de isótopos estáveis, aponte informações como, por exemplo, as áreas de alimentação desses indivíduos.

A partir das informações obtidas, via sistema de dados (telemetria), serão gerados mapas periodicamente, que permitirão monitorar as quatro fêmeas observando-se o uso que fazem do habitat durante seus períodos reprodutivos, assim como conhecer as rotas migratórias que fazem desde quando deixam as praias de desova, identificando áreas prioritárias para a espécie e de maior susceptibilidade a ameaças, como as interações com pescarias e o próprio desenvolvimento costeiro.

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