O médico Luiz Werber Bandeira, chefe da área de Imunologia Clínica e Experimental da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, é definitivo ao afirmar que nenhum dos moradores da Grande Vitoria ficará livre de doenças produzidas pela poluição do ar.
Ele foi um dos palestrantes da última reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Pó Preto, na Assembleia Legislativa. Lembrou que os capixabas estão respirando como se fossem trabalhadores de usina de ferro. Com o detalhe de que esta respiração é por 24 horas por dia, durante todo o ano.
“O ar está contaminado com minério de ferro”, afirmou o médico. Ele acrescentou que o minério, respirado nas ruas, em casa, onde quer que a pessoa esteja, chega aos pulmões, podendo atingir os alvéolos pulmonares. Daí, alerta o médico, é impossível escapar da doença.
Só de dióxido de enxofre a Arcelor lança sobre a Grande Vitória 1,2 mil toneladas do poluente – o equivalente a 47 carretas de 27 toneladas cada. Já a Vale emite 320 toneladas de dióxido de enxofre, equivalentes a 17 carretas. No total, a duas empresas lançam, mensalmente, 1.5 mil toneladas de enxofre sobre a Grande Vitória.
Das doenças causadas pela poluição do ar, 80% são cardiovasculares; o restante se divide entre doenças pulmonares crônicas, infecções respiratórias agudas e câncer de pulmão.
O médico Luiz Werber Bandeira considerou os números dramáticos. Lembrou que entre os poluentes do ar estão o dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono, partículas de minério e ozônio.
Ele citou dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de que uma em cada oito mortes está relacionada à poluição ambiental. A OMS informou que a poluição causou sete milhões mortes em 2012. Luiz Werber Bandeira afirmou que a poluição do ar é atualmente o maior fator de risco ambiental para a saúde humana.
Próximos passos
Na reunião da CPI do Pó Preto, os deputados deliberam sobre requerimentos da ArcelorMittal Brasil. Em um deles, a empresa tentou, mas não conseguiu, evitar que Benjamin Mário Baptista Filho, presidente da ArcelorMittalBrasil e do Segmento de Aços Planos América do Sul, Benjamim Baptista Filho, e o gerente de Meio Ambiente, João Bosco Reis da Silva, depusessem. Queriam mandar em seus lugares um representante de menor peso na empresa, como o gerente de meio ambiente, Guilherme Correa Abreu.
Os deputados disseram não ao pedido, e mantiveram a convocação de Benjamin Mário Baptista Filho para depor na CPI do Pó Preto, na próxima quarta-feira (8). Ele se tornou diretor presidente e CEO da ArcelorMittal Brasil em outubro de 2009.
Já o diretor-presidente (CEO) da Vale, Murilo Ferreira, e o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, terão que depor na CPI do Pó Preto no dia 15 deste mês. Existe a possibilidade de que o depoimento do presidente da Samarco seja transferido para outra data.