A Toninha (Pantoporia blainvillei) é um tipo de golfinho bem pequeno e com comportamento mais discreto, o que dificulta sua visualização. Se difere dos seus primos mais conhecidos por ter um rosto mais alongado e mais de 200 dentes. As fêmeas dão à luz dentro da água e os filhotes nascem com cerca de 70 cm, sendo amamentados durante oito meses, período em são extremamente dependentes das mães. Os filhotes são as principais vítimas das redes de emalhe. Por serem menos experientes, têm mais dificuldade para enxergar os artefatos e evitarem o emaranhamento fatal.
Um dos menores golfinhos do mundo, a Toninha é endêmica da costa leste da América do Sul. Os incipientes estudos indicam que sua população se distribui entre o norte da Argentina e o litoral norte do Espírito Santo, sendo que aqui é onde ela se encontra mais reduzida.
Consta na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção desde 2003 e, desde 2008, na lista mundial da IUCN (sigla em inglês para União Internacional pela Conservação da Natureza). É considerado o mamífero marinho mais ameaçado de todo o Atlântico Sul Ocidental.
A Toninha só é encontrada em profundidades de até 30 metros, bem próximo à costa, portanto. E ela não migra, é um animal residente, ficando ainda mais vulnerável às alterações do ambiente. No Espírito Santo, uma população importante foi localizada na foz do Rio Doce e está certamente sofrendo com a lama que continua sendo criminosamente despejada pela Samarco/Vale/BHP desde novembro de 2015.
Pesca, portos e sísmica
O Instituto Orca (Organização Consciência Ambiental) tem colaborado com o levantamento de dados que compõem o pequeno conhecimento sobre a espécie no país e espera aprovar um projeto de pesquisa junto ao Fundo Nacional de Meio Ambiente (Funbio). O foco da pesquisa é contabilizar o número de animais encontrados mortos nas praias e assim estimar a mortandade real, considerando que apenas cerca de 10% dos indivíduos que se afogam nas redes de emalhe chegam às praias.
Lupércio Barbosa, diretor do Instituto, alerta para o perigo que os novos empreendimentos portuários e as atividades de sísmica possam ter sobre o pequeno golfinho. Se não houver melhor planejamento e inclusão de medidas de conservação da espécie nos licenciamentos ambientais, afirma Lupércio, a Toninha pode desaparecer do mar capixaba em um curto espaço de tempo.
Mas a principal ameaça é mesmo a pesca, especialmente a pesca artesanal, que ocorre mais próximo da costa, exatamente onde residem as populações de Toninha. Nesse sentido, foi proposta uma grande área de exclusão de pesca de emalhe ao longo da costa, até 10 milhas náuticas, para a frota com tamanho superior a 10AB.
Com relação aos empreendimentos industriais, foram propostas três áreas de restrição: na área proposta para criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Costeiro Marinha da Foz do Rio Doce (com ampliação da área, entre o sul da Barra do Riacho até o Rio Cricaré); na área proposta para a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) da Ilha dos Franceses; e na área proposta para a criação da APA da Foz do Rio Itabapoana, na divisa entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. No total, o Workshop listou 13 áreas de restrição, até o Rio Grande do Sul.
Conhecimento científico
Um importante produto científico voltado à proteção da Toninha foi um Workshop realizado em 2012 pelo Projeto Toninha, da Universidade da Região de Joinvile (Univile), em Santa Catarina. É em litoral catarinense que vive a população mais bem conhecida e estudada, residente na Baía de Babitonga.
O Projeto Toninha também produziu um documentário, com a participação de pesquisadores de diversas instituições do Brasil e de outros países. Nele são relatadas várias ações e pesquisas, feitas, na maioria das vezes, em parceria com os pescadores.
No campo da normatização oficial, há o “Plano de Ação Nacional para a Conservação do Pequeno Cetáceo Toninha”, com 7 Metas e 88 Ações, publicado em 2010 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O ordenamento pesqueiro é uma das principais metas, tendo sido definido o limite de 4,5 para o tamanho máximo de redes de emalhe. Também é proposto que as unidades de conservação costeiras e costeiro-marinhas incluem medidas de conservação da espécie em seus Planos de Manejo. E, não menos importante, que sejam realizadas campanhas de educomunicação para tornar a Toninha mais conhecida, o que pode favorecer enormemente sua conservação.
O Ministério do Meio Ambiente também já publicou normatizações referentes à criação de áreas de exclusão de sísmica, mas tudo ainda carece de implementação e fiscalização.