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Torta capixaba em 2022 será com camarão carioca e baiano

Camaroeiros pararam os barcos e buscam o crustáceo, de caminhão, no Rio de Janeiro e Bahia

Governo federal

A torta capixaba de 2022 será com camarão carioca e baiano. Desde a reabertura legal para a pesca camaroeira, em primeiro de março, os pescadores do Espírito Santo têm prejuízo em suas longas viagens de barco em busca do crustáceo, que praticamente sumiu da costa capixaba. 

“Ninguém conseguiu achar camarão. A gente vai para o mar, fica dez dias, e não paga nem o óleo da viagem, só dá prejuízo”, relata o presidente da Colônia de Pesca Z-5, na Praia do Suá em Vitória, Álvaro Martins da Silva, o Alvinho. 

Os barcos voltaram ao mar há pouco mais de um mês. Ficaram parados de primeiro de dezembro a 28 de fevereiro, seguindo a determinação legal do defeso para o Espírito Santo, que é diferente da maior parte do país, que vai de 1º de março a 31 de maio. Mas, sem a reposição dos estoques, os pescadores decidiram parar novamente, por cerca de três semanas. 

“Vamos parar de novo para ver se vem uma ressaca de mar e melhora um pouco. Os barcos de 13 metros, 15 metros, não conseguem pegar camarão nem para pagar o óleo nem o gelo. Não compensa. Teria que pegar no mínimo três toneladas, mas não tem camarão”, explica. 

Na Foz do Rio Doce, em Linhares, no norte, que é o principal pesqueiro camaroeiro do Estado, há uma proibição de pesca mais próximo da linha da costa, a cerca de cinco a sete metros de profundidade, sendo liberado somente a partir de vinte metros. Mas em lugares como Santa Cruz, litoral de Aracruz, na mesma região, onde não há essa limitação, o camarão também sumiu. “Nem em Santa Cruz está tendo camarão”, afirma.

Os pescadores acreditam que a escassez do crustáceo este ano, muito mais severa que em tempos passados, tenha como uma das principais causas a contaminação pelos rejeitos tóxicos de mineração vazados em 2015 da Barragem de Fundão, da Samarco/Vale-BHP. “A gente acredita que o problema é essa lama”, afirma Alvinho. 

Os camaroeiros da Praia do Suá conseguiram o reconhecimento como atingidos pelo crime das mineradoras em 2019, por meio de um trabalho intenso feito pela Defensoria Pública Estadual (DPES). O caso é uma referência no universo da reparação ineficiente e tardia em curso pela Fundação Renova. “Recebemos o lucro-cessante referente a sete anos. O acordo prevê mais três anos. Alivia um pouco. Não fosse isso, o pescador de camarão teria morrido de fome”, testemunha Alvinho. 

Mas, sem conseguir complementar o valor da indenização com a pesca, a situação está muito difícil para a categoria. “Ninguém sabe mais o que fazer. Tem gente passando dificuldade mesmo”, suplica o presidente da Colônia Z-5. 

Quem consegue, se une a outros pescadores e troca o mar pelo asfalto para continuar trabalhando, com um mínimo de renda. “A gente está trazendo do Rio de Janeiro e também da Bahia”, conta, lamentando que, neste ano, o mar do Espírito Santo não vai prover um dos principais ingredientes do prato mais famoso da gastronomia típica da Semana Santa. Resultado: a torta capixaba será com camarão carioca e baiano. “Infelizmente vai ser assim. Isso nunca tinha acontecido antes”, lamenta Alvinho.


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O exemplo de luta dos camaroeiros da Praia do Suá – Século Diário

Atingidos pelo crime a Samarco/Vale-BHP, organização sindical conduziu acordo para recebimento de indenizações 

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