Numa espécie de internato, como há muito não ocorria dentro dos cursos de graduação – e não apenas nos projetos e programas de extensão –, estudantes e professores de Arquitetura da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) irão promover intervenções em campo em municípios atingidos pelo crime da Samarco/Vale-BHP.
Um dos desdobramentos do Seminário “Vale do Rio Doce: passados, presentes e futuros”, realizado nessa segunda feira (20), no Centro de Artes na universidade, foi a aprovação da proposta de realização de uma disciplina optativa do curso de Arquitetura voltada para ação em campo, numa espécie de internato, em que os alunos e professores se hospedam por alguns dias in loco para realizar ações práticas na comunidade.
“É uma proposta que foge do padrão da universidade”, comemora o professor Kleber Frizzera. A Ufes possui projetos de extensão que trabalham ações diretas nas comunidades, mas isso há muito não acontece dentro dos cursos de graduação. “Não sabíamos como os alunos iriam receber a oportunidade, felizmente houve boa adesão e vamos levar o projeto adiante”, destacou Frizzera.
A experiência piloto está prevista para acontecer em agosto próximo, no município de Baixo Guandu, noroeste do Estado. O prefeito Neto Barros (PCdoB) participou do seminário, onde ressaltou sua preocupação com a sustentabilidade econômica local e saudou a iniciativa. “Nossa região é muito fértil para pesquisas acadêmicas, principalmente depois desse crime ambiental. Há muito que se pesquisar sobre os impactos no presente e no futuro”, provoca.
Quanto às possibilidades de atuação dos estudantes e professores da Ufes, a princípio o prefeito destacou as necessidades relativas ao saneamento básico: reformar a barragem do rio Guandu que foi limpa para levar água até a estação de tratamento de água (ETA), ampliar o reservatório da ETA, e levar água tratada até Mascarenhas.
Outra questão importante é construir um sistema de tratamento de esgoto, com ETE e outras estruturas. Com relação ao turismo, as primeiras sugestões são a construção de um restaurante da Colônia de Pesca de Mascarenhas, às margens do rio Guandu, e a restauração do Mercado Municipal.
Passados quase oito meses do crime, a avaliação sobre a atuação da Samarco/Vale/BHP continua negativa. “Ela demorou mais de uma semana para chegar, tivemos que fechar a ferrovia para que ela viesse”, reclama Barros. E, quando chegou, apenas apoiou o trabalho de viabilização do abastecimento de água da população, através de orientação técnica. Mas as máquinas, a mão de obra, o material de construção e os serviços contratados foram todos fornecidos pela prefeitura.
Há também o auxílio aos pescadores, que ainda não chegou a todos os que precisam e tem sido entregue erroneamente para algumas pessoas que não atendem verdadeiramente ao perfil.
E para além das questões emergenciais, Neto Barros se preocupa com o futuro próximo: “Quais as perspectivas econômicas para a região?” Porque a mineração, avalia, está fadada a acabar em cerca de 40 anos. “Nem aqui, nem Mariana, nem Anchieta, nem qualquer outro lugar no Vale do Rio Doce que depende em maior ou menor grau da mineração, desse suposto desenvolvimento, tem um plano econômico pós-mineração. Qual será a nova matriz econômica? Ou teremos todos ter que ir embora da nossa região?”, questiona.