A BHP Billinton divulgou nesta terça-feira (24) um estudo que quantifica as perdas econômicas resultantes da paralisação das atividades da Samarco desde o crime, ocorrido em 5 de novembro de 2015. O levantamento menciona 4,1 mil empregos e R$ 206,2 milhões a menos em arrecadação de impostos, entre outros números.
Mas ninguém ainda valorou, de fato, as perdas geradas pela interrupção violenta das atividades tradicionais de milhares de pescadores – no rio e no mar – de agricultores e de profissionais diversos ligados ao turismo.
Após a tragédia, alguns foram reconhecidos como atingidos e passaram a receber um auxilio subsistência em torno de um salário mínimo e meio. Mas milhares ainda não foram reconhecidos e passam problemas financeiros graves, sendo despejados de suas casas, tendo serviços essenciais cortados e encontrando dificuldades até mesmo para se alimentar. “Seria interessante um estudo calculado sobre esse impacto”, sugere Bruno Milanez, um dos autores da publicação.
Na obra, os organizadores não se propuseram a fazer qualquer valoração dessas perdas, pois há muitas que simplesmente não podem ser valoradas, como o sentimento de vizinhança, o modo de vida, as relações de parentesco, a solidariedade, a expressão cultural das pessoas. “Da mesma forma as questões ambientais”, prossegue Milanez. “Quanto vale a perda de um praia limpa?”, desafia o professor.
Um “trailer” de um filme de horror
A real intenção do livro, explica o professor, é discutir o que o país precisa aprender com o desastre no Vale do Rio Doce, com relação ao futuro da mineração. “Qual é o papel da mineração na economia e na cultura do país?”, questiona Milanez, estendendo esse raciocínio a outras atividades que exploram recursos naturais não-renováveis e altamente impactantes, como o petróleo.
Bruno afirma que um debate que não está sendo adequadamente levantado é sobre a diversificação econômica de cidades como Mariana/MG e Anchieta/ES. Os governos e a própria empresa, aponta o professor, deveriam estar investindo em estudos nesse sentido e em programas de reenquadramento profissional dos trabalhos que estão presos a um setor altamente poluidor e que tem data para acabar.
“Mariana é um trailer, uma antecipação de algo que iria acontecer cedo ou tarde”, pondera, afirmando que o crime só antecipou o que iria acontecer em no máximo algumas décadas, pois os recursos minerais são finitos. Infelizmente, alerta Milanez, tem-se visto pouca capacidade da sociedade de perceber isso. “Em vez de continuar persistindo nessa atividade, deveriam procurar novas formas de desenvolvimento, independente do minério”, sugere.
O livro Desastre no Vale do Rio Doce pode ser baixado gratuitamente através da Fanpage do projeto.