Uma equipe da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto ficará por dez dias no litoral norte do Espírito Santo realizando coletas de sangue, urina e cabelos para uma “Avaliação da exposição a metais em moradores residentes em áreas atingidas pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro em Mariana (MG)”.
As coletas começaram nesta sexta-feira (17) em Regência, distrito de Linhares, e se encerram no dia 26 em Campo Grande, distrito de São Mateus, também no norte do Estado. Além do material humano, serão coletadas amostras de água de beber e de torneira e de alimentos consumidos pela população, para investigar as possíveis fontes de exposição aos metais.
Os participantes voluntários também respondem a um questionário sobre seus hábitos do dia a dia. A expectativa é de receber a adesão de pelo menos 150 voluntários nas quatro comunidades: Regência, Areal e Povoação, em Linhares, e Campo Grande, em São Mateus.
Os resultados da pesquisa – que tem como médico responsável Fernando Hajenius Aché de Freitas –, serão apresentados entre setembro e novembro deste ano, pessoalmente para os participantes e também na forma de palestras/reuniões em grupo. O objetivo é auxiliar em medidas que possam minimizar a exposição dos moradores da região aos metais encontrados no ambiente.
Omissão
O sociólogo e ativista Hauley Valim, um dos responsáveis pela vinda da equipe da USP à região, diz que, confirmada a presença de metais na população, será preciso “repensar a nossa relação com o ambiente e o alimento”. E os resultados também podem servir de ferramenta, jurídica até, na reivindicação de tratamento médico diferenciado para a população atingida.
Hauley lembra que o último laudo sobre a contaminação do pescado saiu há mais de um ano e ninguém sabe dizer se a contaminação está crescente, decrescente ou estável. Os órgãos de saúde pública, por sua vez, não produziram nenhum estudo ou atendimento especial à população atingida, nem em esfera municipal, estadual ou federal. Feridas na pele, diarréias e outros problemas de saúde que surgiram ou aumentaram após a chegada da lama da Samarco-Vale-BHP na região, continuam sem atenção, tratamento e resposta por parte do Estado e das empresas.