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‘Vale e Arcelor fazem o que querem e nem imposto pagam direito’

Omissão do Legislativo e Judiciário com poluidoras ‘se transforma em cadáveres’, denuncia Enivaldo

Leonardo Sá

“Esse tipo de indústria que a Vale faz aqui em Camburi, em Tubarão, é o que tem de mais porco nas indústrias do mundo com relação a minério. Essa prática da Vale aqui não é usada em nenhum lugar mais do mundo. Os equipamentos aqui são ultrapassados, ela mente permanentemente”. 

A fala do deputado Enivaldo dos Anjos (PSD) foi feita no início da sessão ordinária da Assembleia Legislativa desta terça-feira (2), após dedicar um minuto de silêncio ao que chamou de “falecimento brutal, vergonhoso e com altos requintes de violência” da Praia de Camburi, em Vitória.

Segundo o deputado, enquanto as atenções da sociedade estão voltadas para a pandemia do coronavírus, a mineradora tem se aproveitado para seguir poluindo o meio ambiente da Grande Vitória. “Gostaria de comunicar esse ‘falecimento’ e pedir um minuto de silêncio pela praia de Camburi, que ganha na sua parte final a destruição causada pela Vale do Rio Doce. O Espírito Santo é um lugar apropriado para esse time de crime porque ninguém faz nada para combater uma empresa criminosa como é a Vale do Rio Doce”, criticou, citando postagens feitas em suas redes sociais com fotos e vídeos da praia na manhã desta terça-feira, em que é possível ver a areia tomada por uma camada escura e brilhante de minério de ferro.

Divulgação/Assessoria

O ex-líder do governo na Casa se pronunciou enfaticamente contra as grandes poluidoras do Estado, que há décadas “fazem o que querem e nem imposto pagam direito”.

Essas empresas, prosseguiu Enivaldo, “contam com a omissão do Poder Legislativo, com a omissão do Poder Judiciário, porque você nunca consegue uma liminar na Justiça capixaba contra a Terceira Ponte, contra a Vale”, repudiou. “A Assembleia Legislativa precisa tomar uma outra posição. Não adianta fazer média, porque essa média se transforma em cadáveres”, conclamou.

“A verdade é que a influência que esse pessoal exerce é superior à lógica, porque as pessoas morrem, mas ajudam a Vale; elas cheiram pó, mas ajudam a Vale; comem e bebem esse pó preto o ano inteiro, mas arranjam laudo pra beneficiar a Vale”, ironizou.

Após as primeiras palavras de Enivaldo contra as poluidoras, Sergio Majeski (PSB) também se posicionou, evocando a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Licenças, do qual é vice-presidente e Enivaldo também integrante.

“O intuito principal [da CPI das Licenças] era investigar o licenciamento dessas empresas e depois tornou-se uma coisa generalizada e perdeu o foco. (…) Vale, ECO… essas grandes empresas fazem e acontecem porque não são tratadas com o rigor da lei, elas sempre encontram formas de ter algum tipo de proteção, de alívio e não sei mais o quê, e vão continuar fazendo”, apontou Majeski, referindo-se também ao debate dos deputados sobre a suspensão de parte das obras da ECO-101, apesar da manutenção da cobrança do pedágio, e o anúncio de demissões de empregados pelas empreiteiras contratadas.

“É lastimável, mas acho que nós, enquanto Poder Legislativo, precisamos ser rigorosos naquilo que a gente faz e ter foco e objetivo. Se o objetivo é esse, é esse e nós vamos até o fim. E daí em diante vamos dar encaminhamento a quem de direito, Ministério Público, Judiciário. Mas não dá pra ficar aliviando a situação”, afirmou Majeski.

“CPIs avançam e recuam na Assembleia. É logico que a gente sabe que esses recuos são por conta da influência dessas empresas, que começam a acessar senadores, deputados, governador, pra não ir a fundo nas apurações, sempre na alegação de geração de emprego e impostos. A Vale, que não vale mais nada, sempre se justificou com isso. Qualquer coisa que você faz contra essas poluidoras, eles alegam logo a estabilidade dos empregos e de receita”, disse Enivaldo.

“A Arcelor e a Vale, o que elas emporcam a Grande Vitória! Elas matam centenas de pessoas todo ano. Criam uma situação hoje de emprego instável. Hoje você ser funcionário da Vale não é nem 10% do que era ser quando era estatal. Hoje a Vale por qualquer razão ameaça funcionários. Não tem nem 50% dos benéficos que os funcionários antigos tinham. E nem sabe mais se ela gera imposto”, denunciou.

“Nós estamos assistindo isso há anos e não se tem alternativa pra resolver o problema e não tem nenhum prefeito de Vitória que encara, não tem nenhum prefeito da Serra que encara. Todo mundo quando vai ter audiência com pessoal da Vale e Arcelor, estende tapete vermelho como se eles fossem autoridade, como se eles fossem empresários importantes”, provocou.

“Cadê aquele termo de ajuste que assinou com o governador Paulo Hartung? Onde a Vale botou aquilo? E fica esse monte de diretor da Vale com essa cara mais porca na mídia, gastando fortunas com televisão com mídia, dizendo que aprovou um plano, que vai investir milhões. Isso é mentira. Onde é que está o investimento da Vale?”, questionou.

“Todo ano a Vale enterra mais do que o coronavírus no Espírito Santo, muito mais! (…) A Vale mata mais de 400 pessoas por ano, com problema pulmonar que é exatamente fruto dessa permissibilidade que é dada a eles pra agir do jeito que eles querem e nem imposto direito eles pagam”, exasperou Enivaldo. 

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