Vai faltar água para os moradores da Grande Vitória nos próximos 15 dias. Hoje, sobram apenas 300 litros por segundo da vazão do Rio Santa Maria da Vitória. Todo o restante, 3.200 litros por segundo, está sendo captado. Sem chuva, a água do rio não terá volume suficiente para assegurar o abastecimento normal.
Nem o governo do Estado, nem municípios e as empresas acenam com o reuso da água tirada das estações de tratamento de esgoto, mais do que suficiente para atender a indústria.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Espírito (Sindaema), Nildo Antônio Leite de Mendonça, a avalia a situação atual como extremamente crítica. Ele afirmou que considera paliativas as medidas anunciadas pelo governo do Estado, como as discutidas nesta quarta-feira (28) pela manhã na reunião do governador Paulo Hartung com diversos segmentos do poder público e sociedade civil.
O dirigente do Sindaema vê risco de que tão logo chova, as providências anunciadas sejam esquecidas. Defende a elaboração de um plano segurança hídrica, como o proposto pelo Sindaema-ES, para criar cenários alternativos em situações de crises.
Este plano deve prever proteções de nascentes e mananciais com mata nativa, além da construção de reservatórios. E também providências contra o desperdício de água, entre outras medidas. O Espírito Santo foi o Estado da região sudeste que teve o maior desperdício de água tratada em 2013.
Para Nildo Mendonça há um enorme desperdício de água nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) da Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan). Toda a água retirada no processo de tratamento do esgoto é jogada fora. É água de reuso, para ser entregue às indústrias, liberando grandes volumes de água captada nos rios para consumo humano.
Na ETE Camburi são retirados 500 litros de água por segundo. Não são aproveitadas, apesar de as usinas da Vale e ArcelorMittal Tubarão serem vizinhas da estação. Grandes volumes de água são desperdiçados também nas outras ETES, como destaca o dirigente sindical.
Juntas, Vale e ArcelorMittal consomem milhões de litros de água diariamente. A Arcelormital Tubarão recebe água sem tratamento da Cesan. São 800 litros por segundo, totalizando 69 milhões de litros por dia. Para a Vale, a água já é entregue tratada pela Cesan. O consumo da Vale é de 120 litros por segundo, totalizando 10 milhões de litros por dia.
A água entregue pela Cesan à Vale e ArcelorMittal é captada no rio Santa Maria da Vitória em Queimados, na Serra. Do rio são retirados 3.200 litros por segundo em condições normais. A vazão normal do rio varia de 35 mil litros/segundo.
A água retirada do rio Santa Maria abastece 600 mil moradores de todo o município da Serra, a região norte de Vitória, parte de Cariacica, Viana e Fundão e as poluidoras. Os moradores das partes restantes de Cariacica, Vitória, e toda a população de Vitória são abastecidos pelo rio Jucu e pelo reservatório de Duas Bocas.
“O volume de água do rio Santa Maria da Vitória que sobra hoje do que é captado é de cerca de 300 litros por segundo”, alerta Nildo Mendonça. Ele e Adaílson Freire, outro diretor do Sindaema, estiveram nesta terça-feira (27) ontem no local de captação da Cesan.
A captação da Cesan no Rio Jucu é de quatro mil litros por segundo. Não está sobrando água: praticamente o que o rio produz é o volume que a Censa esta captando para o consumo humano. O rio Jucu não tem mais a chamada vazão ecológica, ou seja, o percentual que não pode ser captado para dar continuidade ao rio até o seu destino ao mar. Estão represadas em um dique, em Vila Velha. A vazão normal do rio Jucu é de 43,5 mil/segundo.
Se não chover em 15 dias, a população de Vitória deve se preparar para racionar água. O Sindaema tem cerca de de 2 mil associados, trabalhadores da Cesan e dos Serviços Municipais de Água e Esgoto (Saaes).
Reunião
O governador Paulo Hartung anunciou na reunião de hoje que serão realizadas reuniões específicas nos municípios sede dos comitês das bacias hidrográficas. “Nossa meta é replicar e dar ciência aos produtores rurais, comerciantes, lideranças empresariais e religiosas sobre o tamanho da crise de água, com rios cada vez mais secos e sem previsão de chuva, que estamos enfrentando. É Importante que tenhamos em mente que vamos dialogar muito sobre esse tema que é de fundamental importância na vida dos capixabas”, disse o governador.
O governo anunciou que na quinta-feira (29) será realizada uma reunião específica com os empresários reunidos no Fórum das Entidades e Federações (FEF), que é formado pelas Federações da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), do Comércio de Bens e Serviços (Fecomércio), das Indústrias (Findes), e dos Transportes (Fetransportes). As industrias se consideram prejudicadas com as medidas anunciadas pelo governo para a falta de água.