A Vale e a ArcelorMittal lucram. Os capixabas pagam a conta. Os custos com o tratamento de doenças causadas pela poluição do ar recaem sobre o cidadão e o Estado. Não são poucos os danos à saúde dos moradores da Grande Vitória, pois a lista de doenças é grande: alérgicas, respiratórias, cardiovasculares. Muitas das doenças matam.
O pó preto, o vulgo da poluição do ar, tornou Vitória a capital recordista brasileira em doenças alérgicas respiratórias, e também recordista nacional na prevalência de renite alérgica. Possivelmente, é também recordista entre as capitais do pais em doenças cardiovasculares.
As informações constam do CPI do Pó Preto da Câmara de Vitória, que encerrou seus trabalhos nesta quinta-feira (30). O relatório resgata informações do médico José Carlos Perini, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), da médica Ciléa Aparecida Victória Martins, presidente da Sociedade de Pneumologia do Espírito Santo (SPES), e do cardiologista José Aid Soares Saad, prestadas à CPI do Pó Preto de Vitória.
Quanto custa a poluição da Vale e ArcelorMittal aos moradores? Cada morador de regiões poluídas gasta, em média, 100 a 150 dólares (cerca de R$ 350,00 a R$ 500) por ano para tratar doenças derivadas das emissões. Os capixabas da Grande Vitória gastam R$ 565 milhões por ano para tratar as doenças produzidas pela poluição do ar. Muitas das doenças não têm cura.
José Carlos Perini assinalou que a Vale e ArcelorMittal são algozes dos capixabas na área de saúde. Lembrou que a Vitória é a capital recordista brasileira com doenças alérgicas respiratórias e é recordista nacional na prevalência de renite alérgica.
A poluição do ar vitima a todos. O medico levanta a hipótese de que o índice de infarto no miocárdio em Vitória provavelmente deve ser maior que em outras regiões doPaís. Também lembrou que os índices da poluição do ar em Vitória estão muito acima dos índices da OMS.
Ele acrescentou ainda que “o pó preto é evidentemente um comprometedor da qualidade de vida”. E que as empresas poluidoras nunca vão mudar, pois estão dentro dos “parâmetros legais”. Perini afirmou que o pó preto causa doenças. “Ou mudamos a legislação ou nos mudamos de Vitória”.
Já a medida Ciléa Aparecida Victória Martins explicou que, se a pessoa tem um pulmão que funciona mal, evidentemente que os vasos vão ter que trabalhar muito mais num lugar como Vitória, gerando um derrame ou infarto do miocárdio. Os poluentes, disse a médica, são grandes contribuintes para produzir e/ou piorar as doenças respiratórias. Eles invadem os pulmões e, alguns, atingem até a corrente circulatória.
O cardiologista José Aid Soares Saad afirmou que a poluição ambiental é um grande fator de risco a doenças cardiovasculares. Citou que os moradores de Vitória, mesmos os que não fumam, são prejudicados como se fumassem o equivalente a dois cigarros por dia. São tantas as doenças nesta área que faltam leitos até na medicina privada.
O “festival” de doenças produzidos pela poluição do ar, confirma o que os vereadores da CPI do Pó Preto da Câmara de Vitória afirmaram no relatório. “(…) ficou claro e de forma inconteste a responsabilidade pela poluição do ar na região da Grande Vitória, das empresas Arcelor Mittal e Vale, que assumiram formalmente suas responsabilidades pela poluição do ar, para com a saúde e qualidade de vida do cidadão”.
Tecnologias ultrapassadas
As tecnologias usadas pela ArcelorMittal e Vale são obsoletas para mitigar a poluição do ar. As empresas produzem pelotas de minério de ferro e ação de forma abusiva “destruindo saúde e esperanças, elevando nossas cidades a uma visível e continuada perda de qualidade devida, o que é péssimo para todos”.
Nas proposições, a CPI defende que cabe “aos órgãos ministeriais, o ajuizamento de ações civis públicas visando a reparação dos danos morais e patrimoniais causados ao erário do SUS e à população, incluindo os danos à saúde e o sofrimento causado pelas enfermidades, o desconforto, as despesas com limpeza dos prédios e suas desvalorizações, o uso das águas e contaminação do ar, bem como sejam tomadas providências visando impedir ou mitigar a poluição causada, inclusive mediante a cassação de licenças porventura concedidas irregularmente”.
A CPI ainda recomenda que os órgãos ministeriais proponham medidas judiciais com os seguintes objetivos: que as poluidoras reduzam imediatamente a poluição ambiental a patamares que não impliquem mais em poluição dos prédios situados no município de Vitória, e de modo que os seus habitantes não mais sejam prejudicados em suas saúdes ou confortos, sob pena de interdição das atividades das poluidoras. O relatório final da CPI pede ainda que as empresas indenizem o SUS por todos os tratamentos gerados pelo pó preto, a ser rateado proporcionalmente pelas poluidoras, causadoras de doenças cardiovasculares e respiratórias.