O caderno especial sobre a Indústria Naval do jornal Valor Econômico desta terça-feira (12) destaca, em diversas matérias, a formação da mão de obra e a taxa de empregabilidade do Estaleiro Jurong de Aracruz (EJA). De acordo com o especial, um dos programas de especialização do EJA, realizado em parceria com o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), treinou duas mil pessoas e recebeu sozinho investimentos de R$ 4 milhões. Atualmente, o Estaleiro emprega 2,5 mil pessoas, como afirma a reportagem, e em agosto de 2016, quando o EJA deve atingir o pico de sua produção, o número de vagas deverá ser de 5,4 mil.
Apesar dos números altos de oportunidades, a população que sofre os impactos diretos da construção do estaleiro ainda não possui garantias de que terá alguma forma de compensação pelos danos levados à pequena comunidade da Barra do Riacho, em Aracruz (norte do Estado) com a construção do EJA.
Vicente Buteri, presidente da Associação dos Pescadores da Barra do Riacho e Barra do Sahy, um dos pescadores que perdeu sua área de pesca por conta da instalação do estaleiro, acompanha de perto a chegada do empreendimento na região e afirma que, embora a empresa ofereça muitas vagas de emprego, raras oportunidades são concedidas aos trabalhadores da região. Não há prioridade de contratação da mão de obra local no processo seletivo da Jurong, como afirma. A respeito dos cursos profissionalizantes, ele confirma a realização, mas atenta para o fato de que a empresa exige experiência na área.
Em março deste ano, os moradores da região da Barra do Riacho fizeram um protesto justamente por conta da falta de prioridades na contratação de moradores locais para as atividades do estaleiro. Posteriormente, em reunião com os moradores, os representantes da Jurong alegaram interferência do governo do Estado nas contratações, por meio do programa Emprego Certo.
Em abril, em uma ofensiva iniciada na mídia corporativa destinada a criminalizar o movimento dos trabalhadores que lutam por melhores condições de trabalho, a Jurong anunciou que os protestos realizados pelos trabalhadores ligados ao Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil do Estado (Sintraconst-ES), por melhores condições de trabalho inviabilizaram o término da construção do primeiro navio-sonda de nome “Arpoador”, iniciada em Cingapura. O navio é encomenda das empresas Sete Brasil e Petrobras.
Um mês depois, a Jurong divulgou uma lista dos aprovados para a segunda etapa dos cursos de capacitação. Embora a empresa tenha sido obrigada, no processo de licenciamento do estaleiro, a contratar 80% da mão de obra das comunidades impactadas diretamente pelo empreendimento nos processos de instalação e operação, a Jurong e suas empreiteiras nunca cumpriram o estabelecido, como afirma a sociedade civil organizada. Na época, moradores afirmaram que as últimas contratações realizadas pelas empreiteiras que prestam serviços à Jurong sequer passaram pelo cadastro do Sistema Nacional de Empregos (Sine). Uma delas admitiu 60 trabalhadores da região metropolitana do Estado e apenas dois de Barra do Riacho.
Enquanto a Jurong prioriza a contratação de trabalhadores de outras regiões, Barra do Riacho sofre um intenso processo de migração. Os trabalhadores locais, precisando de emprego e sem ter opções no local de moradia, optam por aceitar empregos em outras regiões do Estado e até do país. Ao mesmo tempo, a promessa de empregos gerada pela construção do estaleiro faz com que a cada dia cheguem mais trabalhadores de outras regiões ao vilarejo. Sem conseguir empregos, muitos acabam por engrossar os bolsões de pobreza no antes pacato lugar.
Desde 2010, a Barra do Riacho recebe trabalhadores de diversas partes do País, atraídos pelas promessas de emprego oferecidas pela Jurong e pela Petrobras na região. Os que não foram contratados pela Petrobras ficaram no município, como uma população flutuante, aguardando os serviços da Jurong. Enquanto isso, os trabalhadores locais não são absorvidos, o que gera um grande problema social. Mesmo os contratados, são utilizados somente na fase de obras.
Em 2012, a Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema) denunciou que a Jurong suspendeu, de forma intempestiva, o processo seletivo para selecionar pessoas da comunidade interessadas em se capacitar para trabalhar na empresa. As comunidades questionam todo o processo de seleção para os cursos de capacitação e também a forma amadora como o processo vem sendo conduzido. À época, disseram que foi dada preferência a moradores dos municípios de João Neiva, Fundão, Ibiraçu e Praia Grande, que não sentirão os impactos do empreendimento como a comunidade da Barra do Riacho e Barra do Sahy.